Filmes

Crítica

Valente | Crítica

Visual é o maior triunfo da nova aventura da Pixar, que acata a cartilha Disney de contar histórias

17.10.2014, às 14H45.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H47

A Pixar nos deixou mal acostumados. Fato. É por isso que já tem gente por aí falando que a empresa entrou em decadência depois de ser vendida para a Disney. Mas o que podemos fazer se foi daqueles computadores - e, principalmente, daquelas mentes criativas - que saíram alguns dos maiores filmes dos últimos 20 anos, como Toy Story, Wall-E e Ratatouille, para citar só três deles? Um dos argumentos utilizados por este grupo de críticos é que a Pixar se rendeu às necessidades do mercado (e à casa do Mickey), produzindo continuações (Carros 2, Universidade Monstros, Procurando Nemo 2), que ajudam a alimentar as lojinhas de seus parques temáticos com mais produtos fofinhos e altamente rendáveis.

valente

valente

valente

A criação de Valente (Brave), o primeiro projeto da casa protagonizado por uma personagem feminina - e ainda por cima uma princesa! - seria a prova definitiva da "decadência criativa" do estúdio que nasceu sob as asas de George Lucas e se desenvolveu embaixo dos olhares de Steve Jobs. O que estes críticos não falam é que a animação é quase tão linda quanto as próprias planícies da Escócia em que se baseia e que o 3D criado é um dos melhores já vistos. A utilização de densas florestas da região criam a profundidade necessária para realmente levar o espectador para dentro da história, sem a necessidade de ficar jogando objetos na cara do público ou fazer os personagens saírem voando ou caindo em túneis que parecem montanhas-russas, o grande vício do gênero.

E ainda tem mais uma vez a homenagem da Pixar e seu chefão, John Lasseter, ao estúdio Ghibli, de Hayao Miyazaki, presente nas criaturas fantásticas que levam a princesa Merida até a casa de uma bruxa, que deve ser irmã da Yubaba, a bruxa má de A Viagem de Chihiro. É neste momento que a história realmente começa a se desenrolar. Merida é uma jovem de espírito livre, que não quer seguir as normas de conduta da realeza e se rebela contra seu pai e, principalmente, sua mãe, ao não aceitar que sua mão seja colocada em disputa. Ao fugir de casa para espairecer, acaba encontrando a tal feiticeira - um ótimo alívio cômico, assim como os trigêmeos, irmãos de Merida - e faz um pedido, sem saber o preço que pagaria pelo seu pacto.

É preciso admitir que o desenrolar da história segue bastante a cartilha Disney, que - vale sempre lembrar - são regras que ajudaram a cimentar os gêneros da animação e dos contos de fadas e transformá-los no que eles são hoje. Ou seja, não há demérito algum aqui, porém, fica sempre aquele ideal de que os roteiristas da Pixar poderiam ter criado algo diferente e genial de novo. Não é, mas está longe de ser algo apenas mediano. A história é bem redonda e está muito bem contada, e ainda tem o pozinho de fazer chorar que a Pixar sabe dosar tão bem.

O grande desenvolvimento técnico de Valente é o cabelo de Merida, que representa a sua personalidade, livre e até selvagem, em contrapartida ao penteado perfeitamente alinhado e contido de sua mãe. Mas enquanto a princesa consegue dar a volta por cima e mostra o seu valor aos pais, fazendo valer a sua vontade, a Pixar parece ter abaixado temporariamente a cabeça para sua sua mãe (a Disney). Que seja só um truque para despistar a atenção antes de se rebelar e continuar cavalgando por aí atrás de aventuras criativas e tiros certeiros. É o que eles nos ensinaram ser o certo. É o que esperamos deles.

Nota do Crítico
Ótimo