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Crítica

Um Herói do Nosso Tempo | Crítica

Um herói do nosso tempo

MH
09.03.2006, às 00H00.
Atualizada em 02.11.2016, ÀS 15H05

Um herói do nosso tempo
Va, Vis et Deviens
França/Bélgica/Israel/ Itália, 2005
Drama - 140 min

Direção: Radu Mihaileanu
Roteiro: Alain-Michel Blanc e Radu Mihaileanu

Elenco: Yaël Abecassis, Roschdy Zem, Moshe Agazai, Moshe Abebe, Sirak M. Sabahat, Roni Hadar, Yitzhak Edgar, Meskie Shibru Sivan, Mimi Abonesh Kebede, Raymonde Abecassis

Shlomo, Salomão, em hebraico quer dizer "paz". Filho de Davi, Salomão se tornou em 997 a.C. o terceiro soberano do Reino de Israel, aquele que construiu o templo de Jerusalém, que simbolizava a sabedoria, que se virou com respeito para as outras religiões - aquele rei que, enfim, honrou o significado de seu nome. Depois de sua morte Israel foi dividida em duas, começo do declínio que levaria à invasão dos babilônios, depois dos romanos, e à consequente diáspora judaica.

Em seus filmes o romeno Radu Mihaileanu reserva um lugar especial ao legado do rei. Trem da vida, prêmio do público e da crítica na Mostra de Cinema de São Paulo em 1998, trata de uma vila judia no Leste Europeu que tenta escapar dos nazistas. Shlomo é o nome de um dos habitantes, meio bobo meio louco, que anuncia a chegada dos alemães e que planeja a fuga em direção à Terra Prometida. Shlomo é também o nome do icônico protagonista de Um herói do nosso tempo (Va, vis et deviens, 2005), o primeiro longa de cinema de Mihaileanu nestes sete anos. Só que desta vez Shlomo está só - e sua causa não é, digamos, a mais popular dentre os israelenses.

O filme aborda um tema que muita gente desconhece: o esforço dos judeus da Etiópia para alcançar Jerusalém. Sim, existem judeus negros e africanos. São conhecidos como falashas e descendem diretamente de Salomão e da Rainha de Sabá. Por décadas sofreram com a fome, o abandono no continente, a guerra civil, os conflitos tribais, a opressão exercida pelos sudaneses. Em 1984 e 1985 o Mossad, a polícia secreta de Israel, promoveu uma missão especial de nome Operação Moisés. O objetivo: em pouco mais de 24 horas, tirar quase 10 mil falashas do Sudão e transportá-los a Jerusalém.

Acontece que sair da situação sub-humana na África era também um desejo laico. Na hora do embarque, uma mãe etíope ordena que seu filho se finja de judeu para conseguir fugir. A criança se nega, não quer deixá-la, mas acaba entrando no avião. Uma vez em Israel, adota o nome de Shlomo e sente na pele as dificuldades de adaptação, o preconceito, a saudade - mas resiste, sem esquecer as últimas frases que ouviu da mãe, reproduzidas no título original do filme, "vá, veja, transforme-se".

Nos 140 minutos de película acompanhamos três fases na vida de Shlomo (o ator que o interpreta na vida adulta, o etíope Sirak M. Sabahat, é a cara do Seu Jorge...). Em todas elas, transpiram as lições legadas pelo Rei Salomão, em especial a solidariedade com o diferente, um tipo de valor que os israelenses nativos negam aos segregados etíopes. E o menino se transforma. Começa a fazer o bem, a partilhar, a ajudar. O fato de Shlomo aqui ser um judeu falso no sangue mas legítimo em seus ideais não é apenas uma provocação do diretor romeno. Ele está tentando dizer que o judaísmo, na sua porção mais benéfica, mais salomônica, não se herda, mas se aprende.

Ainda que o humanismo praticado no filme seja, assim, um tanto "ongueiro", Um herói do nosso tempo vale pela aula de compaixão. E seu mote não deixa de ser oportuno: comovemo-nos todos com o sofrimento milenar dos judeus, mas e o sofrimento dos africanos?

Nota do Crítico

Ótimo
Marcelo Hessel

Um Herói do Nosso Tempo

Va, Vis et Deviens

2005
30.03.2005
140 min
Drama
País: França/Bélgica/Israel/Itália
Classificação: 10 anos
Direção: Radu Mihaileanu
Elenco: Yaël Abecassis, Roschdy Zem, Sirak M. Sabahat