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Tudo Pelo Poder | Crítica

George Clooney se escandaliza com a política em filme que escolhe a saída fácil do fatalismo

22.12.2011, às 20H23.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H40

A alusão a Barack Obama em Tudo Pelo Poder (The Ides of March) está clara no pôster que emula o artista plástico Shepard Fairey, que criou em 2008 o célebre cartaz "Hope" para a campanha do atual presidente dos EUA. Mesmo que não houvesse o pôster, porém, a sombra de Obama paira no ar - e a decepção com o seu governo dá o tom deste quarto filme de George Clooney.

tudo pelo poder

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Baseado na peça Farragut North, de Beau Willimon, o filme se passa em Des Moines, Iowa, algumas semanas antes de o partido democrata, o mesmo de Obama, escolher seu candidato para concorrer à presidência dos Estados Unidos. A trama é centrada no idealista diretor de comunicação Stephen Myers (Ryan Gosling), em campanha para que o governador Mike Morris (George Clooney) vença as primárias. Em questão de dias, derrotado pelo jogo político e por revelações íntimas, o idealismo de Stephen é reduzido a zero.

Farragut North é o nome da estação de metrô que dá na região dos escritórios de advocacia e consultoria onde trabalham os lobistas mais influentes de Washington. O lobby sempre esteve no centro do tal "jogo político", mas o roteiro trata isso com espanto - como se a desilusão com Obama, o Fim da Inocência, só agora abrisse os olhos de todo o mundo para as negociações mais velhas e manjadas da balança política.

Em Tudo Pelo Poder, essa desilusão provoca uma "dinhoouropretização" momentânea do debate: o jogo é nivelado por baixo, porque afinal, como cantou no Rock in Rio o vocalista do Capital Inicial, "todo governo é ruim". À superfície tudo parece muito firme. O excelente elenco está seguro de si, Gosling mais uma vez demonstra sua presença de cena, e Clooney escolhe planos e ângulos também com segurança. No seu discurso, porém, apesar de toda essa aparente solidez, Tudo Pelo Poder treme de ressentimento, escandalizado com o que vê.

Em tese, não há nada de errado nisso. O problema do filme é que, nesse estado de escândalo, realismo se confunde com cinismo. A trama se desenrola em duas frentes: na primeira, o candidato flerta com o senador interpretado por Jeffrey Wright, cujo apoio, embora seja moralmente reprovável, ajudaria demais na campanha de Mike Morris; na segunda, Stephen flerta com uma voluntária em Iowa, Molly (Evan Rachel Wood), e a relação sexual dos dois desencadeia as tais revelações que dizimam o idealismo de Stephen.

Como essas duas frentes são paralelas (Stephen encontra Molly e, no plano seguinte, acontece o flerte com o senador), o filme dá a entender que ambas são naturais no "jogo político". É aí que o realismo (quem quer vencer precisa de alianças) se mistura com o cinismo (não há pureza nem no amor). Para George Clooney - que como todo arauto da esquerda em Hollywood deve hoje se penitenciar por ter se apaixonado pela utopia Obama - tudo que a política toca corrompe-se.

É muito provável que Tudo Pelo Poder consiga uma ou outra indicação ao Oscar (seu elenco sem dúvida faz por merecer), mas, ao tratar a política como um caso de polícia, não tem nada a acrescentar ao debate democrata. Filmes recentes como o excelente francês O Exercício do Estado ou mesmo o hollywoodiano Margin Call são muito mais sóbrios diante da realidade do mundo dos adultos, e não se rendem à saida fácil do fatalismo.

Tudo Pelo Poder | Trailer legendado
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Nota do Crítico
Regular