Tron é daquelas franquias misteriosas que de década em década ressurge - e não com um filme ou série simples, mas com um magnânimo investimento de sua dona, a Disney. Depois do clássico original, um dos primeiros longas a apostar pesado na computação gráfica, vimos a animação Uprising e a sequência Tron: O Legado, dirigido pelo ainda desconhecido Joseph Kosinski, que viria a comandar os blockbusters Top Gun: Maverick e F1 - O Filme.
E agora, 15 anos depois do último filme, Tron: Ares reafirma o compromisso do estúdio com a marca, que colocou mais de US$200 milhões numa produção que, se não faz jus ao montante na história em si, ao menos entrega um impressionante espetáculo audiovisual. O filme é inegavelmente o tipo de experiência moldada para os cinemas, especialmente em IMAX, onde o CGI só não se destaca mais que a impactante trilha de Trent Reznor e Atticus Ross, do Nine Inch Nails - e ainda que não seja a perfeição do trabalho do Daft Punk no longa anterior, é outro grande trabalho da dupla.
Tron: Ares muda a perspectiva tradicional da franquia. Ao invés de mergulhar no grid, o mundo digital da história, o centro da história é sobre um herdeiro de magnata, Julian Dillinger (Evan Peters), que quer trazer o grid para a realidade. O elemento principal desta estratégia é Ares (Jared Leto), a inteligência artificial que é construída para ser um soldado super poderoso. A empresa de Dillinger é o contraponto para ENCOM, antiga companhia de Kevin Flynn (Jeff Bridges), que agora é liderada pela idealista Eve Kim, uma CEO focada em usar IA para o bem da humanidade.
O debate sobre o sistema capitalista pautado pelo uso da tecnologia sempre foi o cerne de Tron, que aqui tenta atualizar o tema com o uso de IA e militarização. Neste sentido, o filme entrega muito pouco além da superficialidade vista nesta conversa. O cuidado necessário, a ganância tradicional do ser humano até os movimentos sonhadores de um mundo onde tudo é usado para o bem. A situação fica mais frágil quando o roteiro tenta alusões a Adão e Eva, criação de um novo mundo, invenção de um “código de permanência” (algo que vai irritar alguns fãs mais dedicados) e os arquétipos pouco criativos do vilão que muda de lado ou os heróis arrependidos.
Enquanto o Ares de Leto e a Eve de Lee carecem de química e brincam na tal superficialidade com atuações bem padrão, Evan Peters e Gillian Anderson usam o mesmo escopo simplório para entrega alguma profundidade na relação da mãe e filho que estão em lados opostos de um mesmo time. Os gritos novelescos e até o desfecho que caminha como uma tragédia se tornam um dos poucos momentos em que a história se iguala ao elemento técnico do filme. Por isso, mesmo que não encontre um propósito dentro do que quer contar, Tron: Ares tem nos bons momentos de ação e no espetáculo visual a entrega necessária para uma aventura digna de uma boa sessão de cinema.