Filmes

Crítica

A Tentação | Crítica

O amor em meio ao fundamentalismo religioso

09.08.2012, às 19H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 14H43

Primeiro filme do diretor inglês Matthew Chapman em 13 anos, o independente A Tentação (The Ledge) apresenta uma mistura de drama e suspense, pontuada por um debate superficial sobre a questão do fundamentalismo religioso.

1

None

A Tentação

None

Na trama somos apresentados a um sujeito (Charlie Hunnam) que se prepara para saltar do topo de um edifício. Um policial (Terrence Howard) é enviado para cuidar do caso e tentar impedi-lo de suicidar-se. Não demora, porém (em uma excelente cena em que somos confrontados com nossos próprios pré-conceitos), para que o homem revele que sua motivação não tem nada de suicida - ele está ali na verdade para salvar uma vida - e comece a contar uma história de amor e entrega nada convencional.

Ainda que busque uma estrutura narrativa que foge do lugar-comum, com diversos flashbacks, o filme não consegue estabelecer a tensão que deveria pela sua própria premissa: por ter uma hora marcada para o suicídio, sabemos que o protagonista não fará nada até que os ponteiros do relógio que ele vê do topo do edifício marquem o meio-dia. Essa certeza tira das cenas de diálogo entre Hunnam e Howard o suspense e geram contestações de roteiro (se já sabia do horário, por que o policial esperou até o último minuto para agir?), mas dão espaço para o drama se desenvolver.

De qualquer maneira, haja drama... Chapman pesa a mão no roteiro, tentando justificar demais as histórias passadas de todos os envolvidos. Todos têm algum esqueleto no armário para amarrar seu comportamento - e frequentemente isso parece forçado. Em A Tentação ninguém é o que é por escolha, mas por imposição dos erros do passado e da realidade.

As atuações são o ponto alto do filme. Hunnam e Patrick Wilson (como um fundamentalista cristão) fazem bons debates sobre religião, mas que infelizmente alongam-se demais e parecem condenar com certo pré-conceito o personagem do segundo, o que deixa claro o que acontecerá no clímax. É curioso como, mesmo que se repita o tempo todo que o religioso tem como hábito fazer o bem, na hora de pirar é sempre o crente quem paga o pato. Por outro lado, o tempo de tela entre Hunnam e Liv Tyler é muito bem empregado. Há espaço para o relacionamento entre os dois se desenvolver de maneira realista e esses encontros geram alguns dos melhores momentos do filme (Hunnam explicando sua técnica de sedução infalível de maneira calculista é excelente).

Ao final, A Tentação não é um filme ruim, mas fica a impressão de que poderia ter sido excelente se fossem tomados alguns cuidados. Há 13 anos afastado da direção, talvez Chapman ainda esteja desenferrujando... que seu próximo filme não demore tanto.

Nota do Crítico
Regular