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Tatuagem | Crítica

Não há "ame-o ou deixei-o" no filme de estreia de Hilton Lacerda como diretor

06.10.2013, às 17H45.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

Na primeira cena ambientada dentro de um quartel em Tatuagem, as barras dos beliches se confundem como as barras de uma cela. É uma imagem que vai ditar o filme a partir daí, porque esta estreia na direção de longas de ficção do roteirista Hilton Lacerda trata de liberdade.

tatuagem

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Se essa proposta de Tatuagem depois parece um tanto estreita, imediatista, talvez seja porque a liberdade no filme é vista como uma questão de escolha, e não necessariamente uma conquista.

A trama se passa em 1978, em um cabaré no Recife, onde Clécio (Irandhir Santos), líder de um grupo teatral, apaixona-se pelo jovem soldado Fininha (Jesuíta Barbosa), cunhado de um parceiro de Clécio, Paulete (Rodrigo Garcia). Como transcorre a ditadura militar, Fininha se vê num dilema maior do que eventuais triângulos amorosos: participar da repressão a subversivos como Clécio ou abandonar o exército e, por extensão, "seu país".

Lacerda facilita a escolha de Fininha na medida em que - apoiado na direção de fotografia sempre sensível de Ivo Lopes Araújo - transforma o cabaré num substituto afetuoso do "país". Diz o clichê que o teatro é uma família, mas em Tatuagem o cabaré, com seus números musicais que jogam com a imagem do Brasil Brasileiro, transforma-se numa "pátria" de fato, uma estrutura cívica com líder carismático (Clécio), mídia combativa (o poeta de esquerda) e povo (entre os frequentadores do cabaré não há revoltados, só adeptos).

Talvez Tatuagem tenha se tornado um consenso desde que venceu o Festival de Gramado (que deu também a Irandhir Santos o prêmio de melhor ator) porque é justamente atrás de consenso que o filme está - uma opção pelo não enfrentamento, tanto na hora de filmar o choque entre teatro e exército quanto na forma apaziguadora com que resolve os conflitos entre os personagens. Onde já se viu um triângulo amoroso sem ameaça de morte.

Não deixa de ser curioso que, antes de virar diretor, Lacerda tenha sido roteirista de todos os filmes de Cláudio Assis, que faz justamente do enfrentamento sua bandeira. Há muito o que questionar nos filmes de Assis, mas ele não se omite a entrar na batalha, a filmar a cidade e sua gente, ainda que de forma enviesada.

O que menos tem em Tatuagem, apesar de toda a disposição de acolher, é cidade e gente. Quando Recife aparece é timidamente, em um bonito plano da janela de um quarto, depois de Fininha ter dormido com Clécio pela primeira vez. A cidade enquanto símbolo de uma entrega, e não enquanto cidade de fato, com suas feiúras e seus vícios, com sua história enfim, um lugar a ser conquistado.

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Nota do Crítico
Regular