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Como todo bom mito do rock, é impossível falar em Brian Jones sem se afundar na imagem que foi criada ao redor do músico inglês.
Membro fundador dos Rolling Stones, em 1962, Jones teria sido o mais talentoso entre eles, o mais bonito e inteligente, o que tinha mais estilo no figurino, o mais excêntrico e o primeiro a namorar Anita Pallenberg, a musa loira do grupo. A encarnação do Rolling Stone ideal, que pavimentou o caminho trilhado nas últimas décadas por Mick Jagger.
Fato é que o guitarrista foi peça essencial na formação dos Stones, e não só pelo seu estilo de roqueiro extravagante. Nos sete anos que permaneceu como guitarrista da banda, Jones contribuiu com sua criatividade afiada para arranjos e seu talento extraordinário para tocar qualquer instrumento, assumindo por conta própria o papel de líder do grupo.
Por outro lado, os últimos anos de vida do músico marcaram também o fim de uma era de certa inocência na banda. Não que Keith Richards e companhia fossem as pessoas mais virginais do mundo, mas Jones se afundou descontroladamente nas drogas até ser demitido pelos colegas, na época das gravações de Beggars banquet, em 1969. Era a banda se esforçando para não desagradar a gravadora, pavimentando sua verve comercial. Ou, pelo menos, essa é uma das versões da lenda.
A história de Jones chega agora aos cinemas, com Stoned - a história secreta dos Rolling Stones (Stoned, 2005). O filme vem atrelado ao show que os ingleses fazem em Copacabana e estréia por aqui (mesmo que de forma modesta, em poucas salas) mais de um mês antes de chegar ao circuito dos EUA.
Polêmica instantânea
Stoned é o primeiro filme dirigido por Stephen Woolley, com elenco praticamente desconhecido. Longe de ser uma biografia plana de Brian Jones, o longa prefere se pintar como um quase-policial, jogando luz nos últimos dias do músico.
Jones (Leo Gregory) é apresentado como o rapaz apaixonado pelo blues, filho de uma família problemática e fundador de uma banda promissora que passa a ser sua vida. O dinheiro e a fama abastecem sua personalidade hedonista, e facilitam sua falta de controle ante as drogas. O vício e sua paixão por Anita Pallenberg (Monet Mazur, excelente), modelo e atriz que o trocou por Keith Richards, fragilizam Jones, que abandona as gravações, passando a viver sozinho dentro de sua mansão, entre delírios e crises de pânico.
Nesse contexto, sua morte, afogado em sua piscina sob circunstâncias mal explicadas, cresceu em controvérsias e folclores. O laudo oficial aponta a culpa nas drogas, que teriam provocado o acidente, mas Stoned recupera a teoria do assassinato do músico.
Woolley jura que passou dez anos pesquisando o assunto, enfiado entre livros, recortes e entrevistas com dezenas de envolvidos na história, costurando versões diversas. Ele provavelmente abençoa o filme, cena a cena, mas o resultado final fica aquém de tanto esforço.
O roteiro, principalmente perto do final revelador, se mostra simplista demais ao encampar a teoria da morte pelas mãos de um desconhecido. A escolha parece ser o do caminho mais fácil, enquadrando a produção na categoria "filme polêmica". O maniqueísmo nas relações entre vítima e assassino é tão cru que tira o brilho potencial do resultado final. Em linhas gerais, acaba ficando mais fraco do que um episódio dos velhos Você decide globais.
Mas todo esse empenho em provar um único ponto de vista não anula o esmerado trabalho de produção visual. A recriação do ambiente dos anos 60 e do universo da banda, seja na Inglaterra ou no Marrocos, é de um resultado delicioso, assim como o excêntrico figurino de Brian Jones.
Os atores escolhidos para encarnar os Stones não enganam quando estão com os instrumentos nas mãos, mas se esforçam em busca da semelhança física - principalmente Luke de Woolfson, que interpreta Mick Jagger. A pena é que estão todos relegados a segundo plano e meia dúzia de frases de efeito.
Em tempos de Ray e Johnny & June, Woolley deveria ter transformado seu Stoned em uma biografia mais adulta, explicitando os vieses das relações e deixando o final em aberto. Funcionaria melhor.