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Não há como negar que o Festival de Cinema de Sundance, nos Estados Unidos, se tornou uma vitrine para novos diretores e filmes independentes. Graças a ele, muitos projetos puderam chegar ao grande público. Mas como tudo que é bom tem seu lado negativo, infelizmente, muitas produções pequenas parecem seguir uma maneira de filmar apenas para aparecer no festival. Essa receita de bolo consiste em polvilhar o roteiro com pequenos melodramas do dia-a-dia, em que nada se fecha, para dar aquela roupagem dita artística. Assim, o espectador reflete sobre o enredo. Sobre pais e filhos (Winter Solstice, 2005) segue esse formato à risca. Pena que o resultado final seja tão artificial e medíocre.
Na trama conhecemos um viúvo, Jim Winters (Anthony La Paglia), e seus dois filhos adolescentes, Gabe e Pete, interpretados por Aaron Stanford e Mark Webber respectivamente. Eles moram no subúrbio de Nova Jersey e levam uma vida pacata e comum. Jim trabalha como paisagista, fazendo jardins. Gabe, o filho mais velho, trabalha numa loja alimentícia e namora Stacy - Michelle Monaghan, que passaria despercebida no filme, não fosse sua beleza. Gabe está inquieto e resolve se mudar para a Flórida. É curioso que os motivos que o levam a essa decisão não são mostrados durante a projeção e o conflito gerado com seu pai se resolve em poucos fotogramas, também sem maiores explicações.
Pete, o filho mais novo, é uma espécie de ovelha negra do bem. Não quer estudar, se mete em algumas confusões e passa o dia sem fazer nada. Seu pai exige apenas que ele termine o colegial. Pete acaba tendo que fazer um curso de verão para conseguir o diploma. Ele conhece um professor de história interpretado por Ron Livingston, outro ator que também é desperdiçado. Nas suas aulas, Pete aprende que os mongóis pararam de conquistar a Europa depois da morte de Gengis Khan. Isso porque sem um líder, eles não sabiam o que fazer. Nesse momento, percebemos a metáfora: sem a mãe, Sra. Winter, a família parece ter parado no tempo, sem saber que rumo tomar. Mas nem isso é desenvolvido, é simplesmente jogado. É só um artifício para dar alguma densidade numa trama mais rasa que um pires de café.
A força catalisadora
Jim conhece por acaso Molly Ripkin (Allison Janney), uma solteirona que se mudou para a sua rua. Ela é uma espécie de catalisadora em algumas mudanças em Jim, da mesma forma que a viagem para a Flórida de Gabe e as aulas de verão de Pete. Só que tudo isso é feito sem dramaturgia e naturalidade. As motivações não convencem e a monotonia impera.
O diretor e roteirista Josh Sternfeld se perde em suas próprias ambições. Ao invés de desenvolver a trama ou mesmo dar credibilidade às escolhas de seus personagens, prefere investir na fórmula mais que batida de pontas soltas para esconder sua pouca habilidade fílmica. A coisa mais interessante do longa acaba sendo o título original. Ao mesmo tempo em que Winter significa inverno, é o nome da família dos protagonistas. Solstice expressa, literalmente, quando o Sol estaciona durante alguns dias até se aproximar novamente da linha do equador. Mas até essa simbolização perdeu sua força na tradução.