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Crítica

Novo Smurfs é um reboot ambicioso que quase se perde no próprio ritmo

Com Rihanna no elenco e na trilha sonora, animação é melhor quando faz o simples

Pepe
17.07.2025, às 07H00.
Atualizada em 17.07.2025, ÀS 12H43

Poucas coisas justificariam um reboot de Smurfs. Mas, em uma era cinematográfica saturada por continuações pouco inspiradas e remakes live-action igualmente dispensáveis, é surpreendente encontrar uma animação que não tem medo de contar uma história original — e que, com inteligência (e um certo caos), abraça a caricatura que sempre foi.

Smurfs funciona como um reboot do universo moderno dos personagens de Peyo. Nesta nova história, acompanhamos a trajetória de Sem-Nome (James Corden, no elenco em inglês), um Smurf que questiona seu propósito na aldeia e embarca em uma jornada de autodescoberta ao lado de Smurfette (Rihanna) e seus demais colegas azuis. Sua busca por identidade se entrelaça com a missão central do filme: resgatar Papai Smurf (John Goodman), que é sequestrado por Razamel (JP Karliak) logo no início da aventura.

Dirigido por Chris Miller (Uma Aventura LEGO) e Matt Landon (O Pequeno Príncipe), Smurfs começa como uma animação clássica dos seres azuis de gorro branco deveria começar: ao som da tradicional canção feliz. Do prólogo — que introduz uma mitologia muito mais profunda daquele universo, envolvendo magos e Smurfs defensores do cosmos — até a apresentação dos novos personagens em uma vibrante montagem musical na vila, o longa parte bem, mas logo tropeça em sua própria ânsia narrativa. 

A produção se apoia excessivamente em plots mirabolantes e recursos visuais grandiosos que, por vezes, desviam o foco da jornada emocional de personagens como o Sem-Nome e Smurfette. Não fosse por algumas subtramas pontuais — que indicam a tentativa dos roteiristas de explorar o mundo mais do que o tempo de tela permitia —, Smurfs passaria fácil como mais uma aposta segura para a temporada de animações do verão norte-americano. Mas não é o caso aqui.

Alguns personagens, como o caricato vilão Razamel — irmão do já conhecido Gargamel —, trazem um tom inovador e necessário para que a vilania não soe desgastada nessa nova roupagem dos Smurfs. Ainda assim, falta ao mago maligno o carisma necessário para garantir um lugar no hall dos grandes vilões da animação. Já figuras como Mamãe Fifi (Natasha Lyonne) e Ken (Nick Offerman), irmão de Papai Smurf, inserem um humor ácido e veloz que dialoga bem com o ritmo das redes sociais, tão familiar à geração mais jovem — embora possa soar confuso para um público mais antigo. Apesar desses altos e baixos, o filme se reequilibra quando ri de si mesmo — e é justamente nesse tom autocrítico que encontra seu melhor momento.

Vale destacar o excelente trabalho de dublagem na versão brasileira do filme. Se na versão original, JP Karliak dá voz à dupla de vilões Razamel e Gargamel, por aqui é Bruno Gagliasso quem assume o desafio — e entrega uma performance surpreendente, que faz jus à tradição da dublagem nacional. Ao seu lado, Diego Martins dá vida ao Sem-Nome com sensibilidade e carisma, enquanto Jennifer Nascimento brilha como uma das melhores Smurfettes dos últimos tempos. Já Tata Estaniecki, novata na função, surpreende ao imprimir energia e irreverência à explosiva Mamãe Fifi — roubando a cena sempre que aparece.

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Smurfs deve encontrar seu público entre os pequenos — especialmente por ser uma das poucas animações disponíveis em cartaz no mês de julho, quando a demanda por entretenimento infantil naturalmente aumenta. E, nesse quesito, o filme cumpre o básico: é colorido, energético e barulhento o suficiente para prender a atenção da criançada. Um dos maiores acertos do longa, inclusive, está na mistura de estilos de animação, que brinca com texturas, proporções e formatos distintos em um verdadeiro mosaico visual (algo que já vimos em animações como Aranhaverso). A escolha traz frescor e originalidade à estética do universo smurf, ainda que, isoladamente, não seja o bastante para elevar o título ao patamar das grandes animações da década.

No fim, Smurfs (2025) é um filme que aposta na renovação sem abrir mão do exagero — o que pode divertir em um primeiro momento, mas também deixa o espectador, especialmente o adulto, um tanto quanto perdido, porque o próprio filme se perde. A nova aventura azul é divertida, sim, mas também caoticamente ambiciosa a ponto de confundir quando devia só curtir o simples.

Nota do Crítico
Regular