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Shame | Crítica

Drama explora a natureza das necessidades

15.03.2012, às 20H00.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H45

"É considerado OK em Hollywood ter cenas de sexo nos filmes, contanto que as pessoas envolvidas não pareçam estar se divertindo. Se elas estão, é pornografia. Se não estão, é arte" - John Waters.

Shame

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A frase do cineasta underground é perfeita para Shame, nova colaboração entre o diretor inglês Steve McQueen e o ator Michael Fassbender (o Magneto de X-Men: Primeira Classe), que trabalharam juntos em Hunger. No filme, o personagem principal, Brandon Sullivan, sofre de erotomania, um distúrbio psicológico que gera compulsão pelo ato sexual. Ele definitivamente não parece se divertir com o problema, que ocupa papel central em sua vida. Brandon busca mulheres no metrô, tem um computador cheio de pornografia no trabalho, masturba-se em banheiros públicos, no chuveiro, contrata prostitutas...

Essa existência, por mais escravizante que seja, porém, é controlada. Brandon tem um vício, mas em momento algum sofre socialmente por ele. Seu chefe aproveita-se de suas habilidades de "pegador" para levá-lo a casas noturnas e faz vista grossa quando técnicos encontram um estoque de pornografia em seu HD. Em casa, o protagonista também não parece sofrer. É solitário, mas resignado.

A reviravolta chega na forma de Sissy (Carey Mulligan de Sedução), sua irmã, que irrompe sem aviso para passar uma temporada no apartamento de Brandon. A presença da jovem desregrada causa um distúrbio no cotidiano viciado do protagonista - que precisa controlar seus impulsos frequentes.

A introdução da personagem causa um rompimento não apenas no que estava estabelecido narrativamente, mas também na estética do filme. Com uma câmera elegante, minimalista, e sets assépticos (que contrastam com o comportamento do protagonista), McQueen reflete a fachada pública de Brandon. Sissy, por sua vez, traz confusão, deixa lixo pela casa e tem um comportamento completamente intrusivo. Cada um, à sua maneira, lida com traumas que o filme sequer deixa subentendidos - só nos resta imaginar o que transformou esses dois - com as excepcionais atuações de Fassbender e Muligan - em pessoas tão danificadas.

McQueen, porém, exagera em sua opção de sequências longas. Em determinado momento há um número de jazz que dura 4 minutos inteiros. Em outro, um encontro em um restaurante mantém a câmera imóvel e sem cortes durante 6 minutos. Entende-se que opção vá ao encontro da estética criada para a existência de Brandon, mas em um filme em que pouco - muito pouco - efetivamente acontece, acompanhar uma sessão de cooper durante 2 minutos é um tanto desinteressante.

Ainda que seja curioso por fazer refletir sobre a privacidade desconhecida de colegas de trabalho, como o texto de Abi Morgan e McQueen opta por manter inexplorados os problemas passados dos dois personagens principais, quando eles finalmente explodem na tela há uma sensação de estranheza. O que houve, afinal? Em sua exploração da compulsão sexual e a natureza das necessidades, Shame mostra os efeitos, mas nunca as causas. Termina vazio, inexplicado. Vemos as consequências, mas ficamos sem entender o passado e absolutamente incertos do futuro. A única sensação real é a de frustração pelo que o filme poderia ter alcançado.

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Nota do Crítico
Bom