Filmes

Crítica

A Serbian Film - Terror sem Limites | Crítica

Terror extremo lida bem com a crise das relações mas termina submisso ao impacto

29.09.2011, às 19H20.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 14H28

Depois de semanas de polêmica, A Serbian Film - Terror sem Limites está estreando em Maceió, na única sala de cinema do país que aceitou passar o filme de Srdjan Spasojevic. É a versão integral, de 104 minutos, que já havia sido exibida sem maior comoção em festivais em Porto Alegre e São Luís e que, depois da proibição no Rio de Janeiro, transformou-se em caso de polícia.

a serbian film

a serbian film

a serbian film

Antes de mais nada, basta assistir ao terror extremo - sobre um ator pornô aposentado que volta à ativa ao receber uma misteriosa proposta milionária - para constatar que A Serbian Film não faz apologia à pedofilia (motivo da celeuma judicial). Na verdade, todo tipo de sexo, na visão do filme, é um desvio de comportamento, uma forma de perversão.

Não é raro que o terror extremo adote o niilismo como discurso - é um subgênero que esvazia os significados do choque para permitir, justamente, que as cenas mais chocantes sejam mostradas. Embora seja niilista até o limite do caricato, A Serbian Film não é, em teoria, uma provocação oca. A começar pelo título, Spasojevic insinua uma crítica à desumanização da Sérvia pós-Milosevic, em que toda interação é ditada pelo comércio e por relações de poder, e dentro dessa proposta o filme tem seus momentos.

Os melhores são aqueles que não se entregam (demais) à gratuidade e que envolvem a falência de relações já construídas, particularmente a do irmão que cobiça a cunhada. Como em tantas ex-repúblicas socialistas onde a fachada do comunismo escondia um regime de exclusão, é inevitável que os poucos vencedores de um capitalismo pessoal - não há iniciativa privada mais seminal do que negociar o próprio corpo, como o ator pornô - sejam vistos com inveja. Não por acaso o irmão faz um policial corrupto; é a representação da ruína do Estado.

O niilismo tem seu encanto, enfim, mas a desconstrução das relações que está no centro de A Serbian Film não funciona sempre. Tem muito de moralista o modo como o filme trabalha com a figura do ator pornô e, à medida em que a escatologia aperta, Spasojevic perde o foco. O principal erro é submeter o protagonista a uma solução deus ex machina (o tal do viagra bovino, que tira a consciência do personagem, destrói todo o processo de corrupção consciente a que ele vinha sendo submetido aos poucos), e daí pra frente é ladeira abaixo.

No fim, submisso ao impacto, depois de toda a carnificina e no auge da descrença, A Serbian Film se revela: é um filme que não faz a apologia de nada.

Nota do Crítico
Regular