|
||||
Uma só andorinha não faz verão, e tampouco uma constelação de astros hollywoodianos garante um bom filme. Sentinela (The Sentinel, 2006) é a prova disso. Apesar de contar com Michael Douglas (Acontece nas melhores famílias), Kiefer Sutherland (24 horas), Eva Longoria (Desperate Housewives) e Kim Bassinger (Provocação), o longa dirigido pelo ex-dublê Clark Johnson (S.W.A.T.) até pode divertir enquanto as luzes estiverem apagadas, mas assim que os créditos começarem a subir, você vai pensar no que vai comer quando chegar em casa e, pronto, já esqueceu o que acabou de ver.
A culpa não é dos atores, que até se esforçam para fazer a audiência acreditar na existência de um plano para matar o presidente norte-americano usando um agente infiltrado entre sua própria segurança pessoal. Mas nos dias de hoje, com terroristas prontos para se sacrificar a qualquer momento, fica difícil acreditar que ainda há ex-agentes da KGB preocupados em eliminar o grande "ícone do capitalismo", figura que representa o mal acima de tudo. Seria um argumento plausível apenas se tivessem congelado os caras na Sibéria na época em que a Guerra Fria estava no auge e esquecido de avisá-los que mais de 40 anos já se passaram. Hoje, uma idéia dessas daria no máximo uma comédia policial, não um suspense com intrigas e traições, né?
Mas se nada disso interessa e você vai assistir a este filme de qualquer jeito, então preste atenção na minuciosa reconstrução do trabalho dos agentes do Serviço Secreto que cuidam da guarda do presidente Ballentine (David Rasche) e sua esposa (Basinger). Tudo isso é o mais próximo possível do real, já que um ex-agente que fez parte da equipe de segurança do ex-presidente Clinton esteve presente como consultor técnico, cuidando dos detalhes e dando, enfim, um toque de realismo à trama.
Na história, quem tem trabalho semelhante é Michael Douglas, que interpreta o agente Pete Garrison. Veterano, ele tem no seu currículo uma bala que tomou protegendo o presidente Reagan décadas atrás. Mas o mundo mudou de lá pra cá e depois que um colega seu é morto ele se torna o principal suspeito do tal plano de matar o atual líder estadunidense. Quem cuida das investigações é seu ex-protegé David Breckenridge (Sutherland). Os dois tiveram há pouco tempo uma rusga ainda não cicatrizada e até mesmo a novata agente Jill Marin (Longoria) vai entrar no meio da guerra particular de nervos entre os dois.
Não adianta querer enganar ninguém, o filme foi produzido e pertence a Michael Douglas. Todos os demais astros envolvidos são apenas convidados a participar da brincadeira. E neste aspecto Douglas não desaponta, provando que ainda está em forma e tem pique para aguentar uma correria. Já os demais acabam não produzindo muito de novo. Eva Langoria tem um papel diferente de sua personagem de Desperate Housewives, mas é muito apagada e, na verdade, acaba chamando a atenção apenas pelo seu tipo mignon. Já o outro astro da TV, Kieffer Sutherland, liga o piloto automático e faz do agente David Breckenridge uma continuação do seu trabalho na série 24 horas. Sobra para Kim Basinger apenas a figuração nisso tudo.
Nesta história cheia de ação e pouca coerência chama a atenção ainda, perto do clímax, um discurso do presidente norte-americano ratificando a adesão dos Estados Unidos ao protocolo de Kyoto - que visa a diminuição da emissão de poluentes na atmosfera. E o que poderia ser uma bela alfinetada na atual política dos Estados Unidos acaba gerando risadas no público. Não tem jeito: Jack Bauer pode salvar o mundo, mas não um filme com roteiro fraco.