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Santa Paciência | Crítica

Comédia faz piada com as relações entre muçulmanos e judeus

19.05.2011, às 16H54.
Atualizada em 12.12.2016, ÀS 00H05

O primeiro filme de Josh Appignanesi, Song of Songs (2006), foi aclamado pela discussão que promoveu sobre identidade e fé ao retratar a relação entre um casal de irmãos - ela uma judia ortodoxa - em Londres.

Santa Paciência

Santa Paciência

Em seu segundo longa-metragem, Santa Paciência (The Infidel, 2010), o cineasta judeu aborda um tema muito mais abrangente e bem mais complexo: as relações entre muçulmanos e judeus. Aqui, porém, Appignanesi abandona a austeridade da estreia em nome da libertadora comédia, o que permite que ele caçoe de ambos os lados sem desrespeitar de verdade nenhum.

No roteiro de David Baddiel, Mahmud (Omid Djalili) é um muçulmano não-praticante que, a pedido do filho (Amit Shah), precisa passar-se por devoto quando o padrasto da noiva do garoto, um líder fundamentalista (Yigal Naor), vai visitá-los para tratar do casamento. O problema, porém, é muito pior do que parece, já que, às vésperas do encontro, Mahmud descobre que é adotado... E que é de família judia.

O filme explora de maneira bem-humorada o que significa ter - e integrar - uma fé, ao mesmo tempo divertindo-se com manias e percepções dos dois lados sobre seus vizinhos. O treinamento judaico a que se submete Mahmud, auxiliado pelo vizinho judeu (Richard Schiff, de The West Wing), é engraçadíssimo e o ponto alto do filme. Faz rir dos estereótipos étnicos com conhecimento de causa. A ânsia do muçulmano ao degustar as bolas de matzá, a reação à trilha de Um Violinista no Telhado, todo o aprendizado do gestual, dos grunhidos rabugentos e da dança, além do desenvolvimento da hipocondria e do humor judaico (não poderia faltar, claro, o Complexo de Portnoy de Philip Roth), tudo funciona em uma sequência em estilo videoclipe, favorecida pela habilidade como showman de Djalili, conhecido comediante anglo-iraniano que já apresentou programas de TV diversos e faz comédia stand-up.

O problema é que a graça do restante de Santa Paciência está ligada demais à bagagem do espectador. Toda a questão da visita do fundamentalista remete à trama de A Gaiola das Loucas (La Cage Aux Folles, 1978) e a descoberta da verdadeira etnia lembra o arco da quinta temporada de Segura a Onda (Curb Your Enthusiasm, 2005), em que Larry David descobre ser adotado e ter pais cristãos. Assim, não é fácil rir se a piada já é conhecida.

O texto de Baddiel é mais feliz nas frases de efeito e diálogos. "Descobrir que você é judeu não significa que cada momento seja uma oportunidade de terapia", a discussão final sobre o nariz... Esses momentos isolados são melhores que o todo, especialmente o previsível, e digno de anúncio da Benetton, desfecho do filme. Dá pra entender que se trata de um assunto delicado, que precisa de cuidado para não polemizar demais e ter distorcida sua moral. Mas estão aí nas telas gente como David, Woody Allen e os irmãos Cohen (além de outro Cohen, o Sasha Baron) para provar que isso pode ser alcançado de maneira muito mais ácida e engraçada. E já que esforços apaziguadores como o de Appignanesi são sempre em vão no entretenimento (e sempre serão, já que alcançam todas as vezes o mesmo público), ao menos que sirvam a outro fim, fazer rir, de maneira mais criativa.

Santa Paciência | Horários e cinemas

Nota do Crítico
Regular