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Contar a história da última pessoa executada na Espanha pelo sádico método do garrote é uma premissa interessante. Principalmente porque a vítima foi um revolucionário que teve essa pena decretada por lutar contra a ditadura de Francisco Franco.
Salvador (Salvador, 2006), do diretor Manuel Huerga, conta a história real do militante, assaltante de bancos e anarquista Salvador Puig Antich, integrante do grupo Movimiento Ibérico de Liberación, cuja execução, em 1974, instalou uma polêmica que ajudou a decretar o fim da ditadura franquista e o retorno da democracia ao país. O filme acompanha as desesperadas tentativas da família, dos colegas e dos advogados de Salvador para evitar sua execução. O roteiro é baseado no livro Compte enrere, do jornalista espanhol Francesco Escribano.
Mas o diretor Manuel Huerga não consegue dar credibilidade à interessante história de Salvador. Ficamos com a impressão que o protagonista aderiu ao movimento contra a ditadura de Franco por ser um garoto burguês que levava uma vida maçante. Faltou profundidade e elementos consistentes no roteiro pouco azeitado de Lluís Arcarazo. E não foi por falta de tempo, já que são 138 longos minutos de duração.
Na primeira parte, filme é narrado através de flashbacks, com Salvador contando sua história de crimes e anarquia para o advogado Oriol Arau. Huerga mostra os assaltos com uma edição picotada e muita câmera na mão, embalados por rocks dos anos 70 para criar tensão. Isso acaba tirando a importância dos atos cometidos pelo grupo. Parece que eles estavam lá pela adrenalina e divertimento.
Um dia, durante um tiroteio, um policial é morto e Salvador é capturado. O julgamento é rápido e o réu é condenado à pena de morte. Nesse momento, Huerga muda da ação para o sentimental. Jesus, o sádico guarda da prisão, se torna um doce após ler uma carta de Salvador para seu pai. Tudo registrado numa montagem ridícula.
Mas o pior é a execução de Salvador, claramente filmada para provocar comoção nos espectadores. São mais de 30 minutos de projeção mostrando o dia fatídico. O pior é que o filme termina e ficamos sem saber quem foi realmente Salvador e a sua importância no processo de redemocratização da Espanha.
Salvador é protagonizado pelo ator alemão Daniel Bruehl, que foi criado de forma bilíngüe em alemão e espanhol. Ele é um dos atores que mais trabalham de sua geração, mas infelizmente não pôde fazer nada com material que recebeu.
Tecnicamente o filme também não convence. Manuel Huerga optou pelas cores pálidas e azuladas nas cenas da prisão e saturadas no inicio do filme para dar o clima de anos 70. Infelizmente, o diretor falha na tentativa de criar alguma empatia por um personagem interessante e depois descamba para um típico açucarado produto de TV.