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Crítica

Ruby Sparks - A Namorada Perfeita | Crítica

Diretores de Pequena Miss Sunshine transformam a síndrome do segundo filme em patologia

04.10.2012, às 12H35.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

Ruby Sparks - A Namorada Perfeita é o exemplo ideal do tamanho do estrago que uma consagração no Oscar pode provocar. O primeiro longa do casal Jonathan Dayton e Valerie Faris, Pequena Miss Sunshine, saiu da premiação em 2007 com duas estatuetas. Cinco anos depois, Ruby Sparks transforma a síndrome do segundo trabalho em patologia.

ruby sparks

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O roteiro escrito por Zoe Kazan acompanha Calvin Weir-Fields (Paul Dano), um jovem romancista que está sofrendo bloqueio desde que seu primeiro livro foi tido como "a voz de uma geração". O fato de Calvin se comparar a J.D. Salinger - que depois de publicar O Apanhador no Campo de Centeio só fez contos e novelas - é neste início de filme o primeiro sintoma de que um delírio muito grave está em curso.

Sem entregar muito, digamos que o delírio se confirma, na forma da namorada perfeita do título, Ruby Sparks, interpretada por Zoe. A ideia do filme é recorrer ao realismo fantástico para falar, simultaneamente, da procura pelo amor e do labor artístico. Seria uma variação interessante no subgênero do menino-encontra-menina - um A Rosa Púrpura do Cairo para a geração Girls dos jovens gênios latentes - mas Ruby Sparks acaba confundindo tudo, como se ambição artística e comportamento antissocial fossem uma coisa só.

O fato de Paul Dano interpretar com mais afetação que o normal um personagem difícil de empatizar - que escritor consegue pagar uma casa com piscina daquelas em Hollywood Hills? - contribui para tornar Ruby Sparks um filme tipo "first world problems" (o "classe média sofre" deles), em que exorcizar demônios pessoais é menos um processo de cura do que uma estratégia para vender artistas-que-sofrem.

Mais adiante, Calvin palestra numa livraria e solta o velho papo de que histórias não vêm de dentro dos escritores - elas os atravessam. É uma forma de evitar um tipo de presunção (a do artista como Deus, como o progenitor), mas é também uma maneira de se omitir. Ver-se como um "médium" que canaliza experiências é uma falsa modéstia que, no contexto do filme, serve para justificar a atitude antissocial.

E aí vem o plano esperado e fundamental de Ruby Sparks, o momento em que Calvin anda na rua no meio da multidão. Ele é o único que "tem rosto", porque caminha em direção à câmera, enquanto todas as outras pessoas seguem no contrafluxo. É aquela imagem bonitinha dos filmes indie, um tipo de plano que virou clichê (Natalie Portman no contrafluxo em Perto Demais logo vem à mente), mas que carrega uma visão de mundo não só vaidosa como exclusiva. É o mundo dos gênios da escrita e dos ganhadores do Oscar, um mundo de privilégios.

Nota do Crítico
Ruim