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Rio | Crítica

Animação feita por brasileiro não ajuda a mudar a imagem do país no exterior

07.04.2011, às 18H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 14H18

Quando um brasileiro está fazendo sucesso no exterior, é normal que nós, conterrâneos, fiquemos felizes. É um patriotismo que costuma funcionar só com o vento a favor, mas é o que temos. Além do futebol e da música, o cinema começou a integrar esse "Brazil for Export" com Walter Salles, Fernando Meirelles e Carlos Saldanha. O último, ganhou fama em um terreno ainda mais restrito, o das animações, quando dirigiu a trilogia A Era do Gelo.

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Saldanha estreia agora uma nova fauna de personagens em Rio, animação que mais uma vez dirige para o estúdio Blue Sky. O protagonista é Blu (voz original de Jesse Eisenberg), uma ararinha azul macho capturada no Rio de Janeiro que vai direto do seu ninho para o frio de Minnesota, onde é adotada por Linda (Leslie Mann). A vida dos dois é autocentrada, com um tomando conta do outro para tudo, sem deixar espaços para a moça se envolver com outro ser humano, nem para a pequena ave sequer aprender a voar.

Até a chegada de Tulio (Rodrigo Santoro), um estudioso amante das aves que viajou até os Estados Unidos atrás da última ararinha azul macho que se tem conhecimento. Sua missão é levar a ave de volta para o Brasil, para se acasalar com a fêmea Jade (Anne Hathaway) e assim perpetuar a espécie. O plano parece simples, mas uma história de aves raras (e caras) em um país corrupto como o nosso não pode acabar assim fácil, e em pouco tempo as duas últimas ararinhas azuis estão presas em uma gaiola numa favela, esperando o momento de serem contrabandeadas.

Mais aventuresco e dramático do que cômico, o enredo vai mostrando como Blu e Jade escapam das garras dos bandidos, se livram das algemas que as mantêm juntas, fazem amizades com animais locais e visitam os cartões postais do Rio de Janeiro, do Cristo Redentor à Copacabana, todos lindamente retratados. Existe também a história do amadurecimento de Blu, a redenção do menino que levou as aves até os contrabandistas e a aventura de Linda e Tulio pela favela e pelo Sambódromo, tudo feito de maneira bem divertida e leve, mas, infelizmente, leviana.

Em se tratando de um filme para a família e feito no Brasil, tudo logicamente acaba em samba, mas o desenrolar todo serve para alimentar ainda mais todos os estereótipos que os estrangeiros têm do nosso país. Sendo o diretor um brasileiro era esperado (pelo menos por mim), uma visão menos caricata, que ao menos não tivesse seguranças fortões escondendo roupinhas brilhantes por baixo do uniforme, só esperando o momento de "cair no samba".

É óbvio que somos conhecidos lá fora pelo trinômio futebol-samba-bunda por méritos (ou deméritos) próprios, que vão desde os resultados nas Copas do Mundo e o crescimento do turismo na época do Carnaval, ao caso de prostitutas envolvidas em grandes escândalos (né, Berlusconi?), mas será que isso é realmente tudo o que temos para oferecer?

Carmen Miranda (nascida em Portugal, mas "vendida" lá fora como a cara e a voz do Brasil nos anos 40 e 50), depois de sua primeira temporada nos Estados Unidos voltou ao Brasil e foi bastante criticada pela imprensa, que a acusou de ter perdido sua "brasilianidade". Saiu daí o lindo samba "Disseram que Voltei Americanizada", de Luiz Peixoto e Vicente Paiva, que refutava tal crítica. Impecável o trabalho que Saldanha vem desenvolvendo em Hollywood, mas talvez seja hora de passar um tempinho extra aqui no Brasil antes de seu próximo projeto.

Nota do Crítico
Bom