Filmes

Crítica

Crítica: Pearl Harbor

Ri melhor quem atira a última bomba

31.05.2001, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H12

Já diz o ditado: ri melhor quem ri por último. Os americanos levam isso a sério. Pearl Harbor está aí para provar. O filme que deveria retratar a famosa batalha da Segunda Guerra Mundial em que aviões japoneses bombardearam e destruíram a base militar americana no Havaí é uma grande (e caríssima) piada.

Pearl Harbor

Pearl Harbor

Pearl Harbor

Pearl Harbor

O orçamento do filme criou muita expectativa desde o começo. A Disney liberou nada menos que 140 milhões de dólares para os produtores Jerry Bruckheimer e Michal Bay (os mesmos de Armageddon). Bay acumulou também a função de diretor da fita e teve um trabalho dos grandes na hora de reunir o elenco. Apesar de parecer muito dinheiro (a média dos filmes atualmente custa 75 milhões), boa parte da verba foi destinada aos efeitos especiais da Industrial Light and Magic. Por isso, Ben Affleck, principal nome nos letreiros, teve que diminuir e muito seu cachê.

Affleck interpreta Rafe McCawley, um piloto americano que desde os primeiros dias de sua vida passa o tempo todo ao lado de Danny Walker (o novato Josh Hartnett), seu melhor amigo e também recruta da força aérea ianque.

Durante treinamento, Rafe se apaixona por Evelyn (Kate Beckinsale), uma enfermeira que ele abandona em seguida para realizar seu sonho de participar da Guerra. Rafe entra para o Esquadrão Águia, parte da RAF (Força Aérea Real, da Inglaterra) em que americanos, canadenses, australianos e suecos lutavam contra a aeronáutica alemã. Do outro lado do mundo, ele se corresponde com Evelyn, que o aguarda bela e suspirante na base havaiana.

Politicamente corretos

Pearl Harbor tinha como missão principal estourar as bilheterias e gerar mais dinheiro que Titanic. Para que o objetivo fosse alcançado, alemães e japoneses foram ligeiramente poupados do papel de grandes carrascos. Com frases como um homem brilhante encontraria uma forma de não fazer guerra, dita pelo almirante Yamamoto (Mako, indicado ao Oscar de ator coadjuvante em 1966 pelo filme Sand Pebbles), os engravatados de Hollywood tentam preservar os mercados estrangeiros. Por esse motivo, versões editadas (sem declarações do tipo malditos japas) serão levadas para os cinemas destes povos.

Não colou. Enquanto é possível ver americanos jovens, bonitos, saudáveis e sorridentes de um lado, do outro só se vê japoneses velhos, feios e amargurados.

O ataque que afundou 21 navios, destruiu 188 aviões, deixou outros 159 fora de combate e matou 2409 soldados americanos só acontece depois que o romance água com açúcar vira drama, na hora que o avião de Rafe é abatido em combate na Europa. Danny cuida tão bem da namorada de seu melhor amigo que acaba se apaixonando por ela. A cena em que Rafe volta são e salvo e com aquele discurso foi o meu amor por você que me manteve vivo é um clichê sem tamanho. Só de olhar para o amigo chegando na casa da namorada ele já sabe que foi traído. É de doer!

O fim do mundo

A batalha em si é a única parte do filme que realmente vale a pena. Embora seja visível a utilização de computação gráfica para multiplicar os aviões japoneses, os estouros e bombas são espetacularmente reais.

Mas como os Estados Unidos não podem sair perdendo nem numa competição de par ou ímpar, o filme não acaba por aí. Os mocinhos se juntam ao lendário aviador Jimmy Doolittle (Alec Baldwin) para voar até Tóquio e bombardear a capital japonesa. Ao contrário do ataque a Pearl Harbor, não foi destruída nenhuma base armada, apenas fábricas. Porém, os americanos encaram esta batalha do outro lado do Pacífico como um troco, provando sua superioridade.

Rir ou chorar?

Nem um pouco superiores são as atuações de estrelas do porte de Alec Baldwin, Jon Voight, Dan Aykroyd e Cuba Gooding Jr.. Este último não se parece em nada com o ganhador do Oscar por Jerry Maguire. Ele quase repete o papel do fraco Homens de Honra, mas consegue se sair ainda pior.

A impressão que fica é que Bay e companhia estavam filmando a continuação de Armageddon. Afinal, para os americanos, ver o seu país destruído é ver o fim do mundo. Estão lá novamente Affleck e o seu heroísmo, uma belíssima morena (que até se assemelha fisicamente com Liv Tyler) e uma história de amor que vai mudar o mundo. Depois de gastar tanto tempo (quase três horas) e dinheiro (10 reais em média), só rindo mesmo.

P.S. Cuidado para que na saída do cinema não esteja tocando a balada de Armageddon: "I don´t wanna miss a thing", do Aerosmith. (Acredite, aconteceu comigo!!)

Nota do Crítico
Ruim