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Reis e Ratos | Crítica

Comédia de erros misturada com paródia de filme B se alinha à nossa tradição de refazer a história como farsa

17.02.2012, às 12H02.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H45

Não importa o ano. Seja no cinema da chanchada, na época da Embrafilme ou da Retomada, as nossas comédias no cinema têm predileção por tratar a história do país como farsa - e quando estamos diante do outro, do estrangeiro, o nosso Jeitinho deixa de ser um desvio de caráter e passa a ser uma commodity, o antídoto ao quadrado american way.

reis e ratos

Reis e Ratos resgata essa visão de mundo. A trama se passa no Rio de Janeiro, em 1963. Uma cantora de boate (Rafaela Mandelli) é vítima de um atentado a bomba, e flashbacks revelam que o incidente, ocorrido em plena Guerra Fria e às vésperas do golpe militar brasileiro, tem participação de um agente da CIA (Selton Mello), um major da aeronáutica (Otávio Müller), um latifundiário (Orã Figueiredo), um cafetão vigarista (Rodrigo Santoro), um radialista médium (Cauã Reymond)...

O diretor Mauro Lima não entendia por que as pessoas viam seu trabalho anterior, Meu Nome Não é Johnny, como uma comédia. Agora ele escolhe fazer o que é, inequivocamente, uma comédia de erros, mas com "mensagem". Ao parodiar os policiais B hollywoodianos (com personagens que falam como se estivessem sendo dublados), Lima desloca a gravidade dos americanos - essa gente que leva a política internacional tão a sério - em favor de um laissez-faire tipicamente brasileiro, deixa a vida me levar vida leva eu.

Se a mensagem não ficou clara pelo modo como Reis e Ratos relativiza a história e minimiza os males da ditadura (poderia ter sido pior, diz o filme), então a excessiva narração, que interrompe a ação o tempo inteiro, reitera isso mais de uma vez. "A nossa guerra civil era outra, era uma tormenta de corações", diz a cantora em off no início do filme, para depois repetir no final que "essa é uma história de amor, amor daqueles que não queriam mexer no destino de coisa nenhuma". Não somos uma nação de acomodados e acochambradores, sugere o filme, só um povo que ama demais o estado das coisas.

Faria mais sentido se Reis e Ratos - um título pomposo para um filme que se imagina despretensioso - se chamasse Muito Barulho por Nada, então.

Reis e Ratos - Trailer
Reis e Ratos | Cinemas e horários

Nota do Crítico
Regular