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Pronta para Amar | Crítica

Drama reacionário alerta: sexo demais pode matar

15.09.2011, às 18H43.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 14H27

Não era fácil ser uma mulher independente nos anos 1940 - pílulas anticoncepcionais eram proibidas nos EUA e a igualdade entre os sexos no mercado de trabalho só foi reconhecida pela Constituição do país em 1964 - mas Rosalind Russell se saia muito bem como ícone de um pré-feminismo em clássicos como Jejum de Amor.

pronta para amar

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Hoje as comédias românticas e os dramas água-com-açúcar têm Kate Hudson, atriz de sorriso fácil e seios pequenos que, por isso, personifica em Hollywood a mulher bem resolvida com seu corpo e sua vida. Em Pronta para Amar (A Little Bit of Heaven), ela interpreta Marley Corbett, estereótipo da independência feminina em tempos de correção política e páginas lacradas da revista Nova.

Marley vai de bicicleta para a agência de publicidade onde trabalha, uma espécie de Don Draper de saias (ela pedala de saias) que espanta clientes com sua perspicácia quando diz que quem compra camisinhas são as mulheres, e não os homens. Marley tem um cão, um apartamento, dois amigos (o gay negro e a louca meio encalhada), transa com quem quer e não se compromete. Se não estava claro, ela repete em off que é perfeitamente possível ser feliz sozinha.

Obviamente, como não estamos mais nos tempos de Rosalind Russell e os filmes-de-mulher são hoje uma trincheira do machismo, Pronta para Amar vai mostrar para Marley Corbett que ela está errada - e castigá-la por tamanho piriguetismo.

Felicitações à roteirista estreante Gren Wells, que completou 37 anos em junho, pela ideia de dar à personagem um câncer terminal no cólon - o que permite ao roteiro fazer um par de piadas sobre bunda e, no limite, induzir à interpretação de que Marley está recebendo um castigo do céu pelo despeito de ter aderido ao sexo anal. Por dentro de toda aquela fachada sentimental de descobertas de última hora (o amor efêmero, as pazes feitas no leito de morte), Pronta para Amar é um caroço de desonestidade.

O título em português do filme já deveria servir de aviso para a espectadora consciente. Dizer que uma pessoa está "pronta para amar" é sinal do maior moralismo, como se a vida não fosse um acúmulo constante de experiências e, sim, um plano de carreira dividido entre o estágio (o sexo livre a que se deve renunciar quando encontra-se o amor) e a aposentadoria. O filme trata Marley não só como uma ninfomaníaca (ela toca nas pessoas e a câmera faz questão do close-up nas mãos dela), também como uma criança - a presença dos pais, a bicicleta, o balanço pendurado na sala - que está prestes a sentir a dor do que é ser "adulta".

"Fulana já provou do bom e do melhor, deu pra todo mundo, agora está pronta para amar." Sério que é essa a imagem que Hollywood faz hoje das mulheres?

Pronta para Amar | Cinemas e horários

Nota do Crítico
Ruim