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Crítica

Praia do Futuro | Crítica

Karim Aïnouz volta a tratar de fuga e reinvenções, agora com um apelo um pouco mais pop

11.02.2014, às 18H02.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

O que move a reconstrução de um ser humano, a coragem ou medo? Praia do Futuro, o mais novo filme do diretor Karim Aïnouz, que teve sua estreia nesta terça-feira no Festival de Berlim, é centrado em três homens movidos por esses sentimentos. A co-produção brasileira e alemã estrelada por Wagner Moura, Jesuíta Barbosa (Tatuagem) e o alemão Clemens Schick é um dos concorrentes ao Urso de Ouro na competição oficial.

praia do futuro

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Praia do Futuro começa com o dia em que o salva-vidas Donato (Moura) perde para o mar pela primeira vez. Na tentativa de socorrer dois turistas alemães, apenas um sobrevive e, assim, começa a ligação do protagonista com o alemão Konrad (Schick), que faz Donato trocar Fortaleza por Berlim. Donato se muda para a cidade de inverno cinza e frio, longe do mar cearense e também de Ayrton (Barbosa), seu irmão mais novo.

Donato abandona completamente o passado para se adaptar e viver uma vida em que sua personalidade não esteja atrelada ao que os outros projetam nele. Praia do Futuro mostra de maneira sensível e contundente a liberdade - que não vem sem um tanto de sufoco - que a mudança proporciona. E a fotografia que contrasta as cores do Nordeste brasileiro com a frieza do clima alemão também dá conta dessa transformação.

A fuga e o abandono, temas que Aïnouz aperfeiçoou na sua carreira sob uma perspectiva feminina, em O Céu de Suely e Abismo Prateado, ganham aqui contornos mais pessoais (Berlim foi a cidade que o cearense Aïnouz escolheu para morar em anos recentes), ajudam a mostrar a vulnerabilidade dos personagens, e, de certa forma, humanizam o salva-vidas, visto pelo irmão mais novo como um super-herói.

A referência aos superpoderes vem de uma ideia de Felipe Bragança, roteirista que trabalha com Aïnouz desde O Céu de Suely. Tratar os personagens por Aquaman (Donato), Speed Racer (Ayrton) e Motoqueiro Fantasma (Konrad) ajuda a entender a projeção e a idealização que atribuímos às pessoas ao nosso redor. Essa aproximação com o pop está também na trilha sonora; "Heroes", de David Bowie, que toca já no trailer, embala uma das sequências mais bonitas e cheias de significado do longa.

Praia do Futuro estreia em 1° de maio no Brasil e deve dar o que falar, infelizmente não só por ter uma história bem executada que trata do poder da reinvenção. O longa traz também cenas de sexo entre o personagem de Wagner Moura e o alemão Clemens Schick. Sobre o possível burburinho que as cenas podem causar no país (embora Lázaro Ramos já as tenha feito em Madame Satã, primeiro filme de Aïnouz, há mais de dez anos), especialmente após o primeiro beijo gay numa novela global, Moura foi certeiro durante a coletiva em Berlim:

"Temos que ter responsabilidade de não fazer isso virar um assunto. É preciso ver essa relação entre eles com naturalidade. Se fosse com um homem e uma mulher, ninguém estaria falando sobre isso. Ter no cinema um filme em que dois homens podem se amar não é um problema, é muito bom."

Acompanhe a nossa cobertura do Festival de Berlim

Nota do Crítico
Excelente!