Em Paixão sem limites (Asylum, 2005) o diretor David Mackenzie retorna ao tema de Pecados Ardentes, seu filme anterior: uma sombria obsessão sexual que será a força motriz dos personagens principais, uma mulher frustrada sexualmente por um marido negligente que busca amor e paixão nos braços de um homem mais jovem. Mais uma vez, porém, ele cai nas mesmas armadilhas: situações inverossímeis em que a credibilidade fica a cargo apenas das ótimas interpretações dos atores.
Na trama, estamos em 1959 e o Dr. Max Raphael (Hugh Bonneville) foi promovido a superintendente de um asilo de loucos, morando numa mansão nos arredores do local. Max assume o cargo para a inveja do Dr. Peter Cleave (Ian McKellen), que trabalha no sanatório há anos e esperava ser laureado com o cargo. Já no inicio percebemos que Max negligencia Stella (Natasha Richardson), sua esposa, e Charlie (Gus Lewis), o filho, por causa de seu trabalho. Sentindo-se frustrada, Stella por sua vez também não dá muita atenção ao jovem. Charlie acaba encontrando um amigo na figura de Edgar Stark (Marton Csokas), paciente internado por ter decapitado e esquartejado sua esposa em um ataque de ciúmes. Ele, como outros internos, está fazendo reparos na casa de Max vigiado por seguranças do asilo. A tarefa de Edgar é consertar uma pequena casa de plantas envidraçada no jardim da mansão. Surge então uma atração entre Stella e Edgar e a tal casinha envidraçada acaba se tornando uma espécie de árvore proibida no meio do enfadonho paraíso. Não demora para que os dois resolvam fugir - e o homem comece a mostrar suas cores.
A história é adaptada do livro escrito por Patrick McGrath. Infelizmente, o roteirista Patrick Marber não consegue transportar a história de forma crível. Ele mantém todas as reviravoltas, mas sem o tom macabro obrigatório para a obra. Além disso, no livro as passagens acontecem com naturalidade, diferente do filme dirigido por Mackenzie. Cada nova surpresa filmada por ele traz consigo questionamentos sobre as atitudes pouco aceitáveis dos personagens. Uma outra disparidade reside no personagem do Dr. Pete Cleave, fascinado por Stella no romance, o que cria uma interessante motivação ao personagem. Na tela, isso acaba transformado em uma paixão platônica por Edgar.
Só conseguimos embarcar na trama devido ao ótimo desempenho de Natasha Richardson e Ian McKellen. Eles são responsáveis pelos melhores momentos da projeção. Sem ele, o filme seria um equivoco total. McKellen está ótimo como um psiquiatra inglês que disfarça seu lado de tia velha invejosa. E Natasha é um verdadeiro vulcão de erotismo e desejo. Fica o mérito da boa seleção de elenco ao diretor David Mackenzie, mas também a certeza de que ele deveria ter explorado melhor o lado proibido da relação estapafúrdia entre os personagens.
Um longa mediano que fica no meio do caminho entre a elegância de uma produção inglesa e um drama denso sobre os nossos mais obscuros desejos. Nas mãos de um diretor mais corajoso, teria sido um filmaço.