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Os Produtores | Crítica

Os produtores

MH
29.12.2005, às 00H00.
Atualizada em 13.11.2016, ÀS 01H10

Os Produtores
The Producers
EUA, 2005, 134 min
Comédia/Musical

Direção: Susan Stroman
Roteiro: Mel Brooks e Thomas Meehan

Elenco: Nathan Lane, Matthew Broderick, Uma Thurman, Will Ferrell, Roger Bart, Gary Beach, Jason Antoon, Fred Applegate, Jim Borstelmann, Kathy Fitzgerald

No papel do frágil contador Leo Bloom, Matthew Broderick faz o mesmíssimo barulho esquizofrênico de Gene Wilder quando esfrega o lenço azul no rosto. Na pele do biltre Max Bialystock, Nathan Lane enseba os cabelos para o lado e faz tipo de canastrão, igualzinho a Zero Mostel (1915-1977). Ainda assim, são muito diferentes Primavera para Hitler (The Producers, 1968) e a sua refilmagem, Os produtores (The Producers, 2005). Isso porque os contextos são distintos.

Mel Brooks pensou na comédia de 1968 primeiro como forma de homenagear um velho produtor da Broadway, com quem trabalhara aos treze anos, que transava com várias senhoras de idade em troca de financiamentos para suas peças. Então roteirista em ascensão (havia criado o Agente 86 três anos antes), Brooks inventou a história mais indigna e indecente possível para encaixar o produtor: um filme que fazia piada com nazistas. Juntaram-se na enrascada outros dois judeus - Mostel e Wilder. Brooks jamais havia se envolvido com cinema antes de escrever e dirigir Primavera. Wilder vinha do teatro. O filme foi um fiasco na estréia.

Mas a boa resposta em Nova York e a ajuda de fãs do filme, como Peter Sellers, conduziram a uma campanha ao Oscar. Wilder foi indicado, Brooks venceu com o melhor roteiro. Com os anos, Primavera para Hitler virou cult. E foi nos anos 90 que o empresário David Geffen - o "G" da DreamWorks SKG - sugeriu a Brooks que transformasse o filme em musical da Broadway. Como seria se a pior peça do mundo - o elogio de Hitler que Bloom e Bialystock montam pensando em fracasso, justamente para fugir com o dinheiro dos investidores - se tornasse um hit na Broadway real? A ironia era boa demais para ser desperdiçada. E Os produtores, com Lane e Broderick à frente no palco, se transformou a partir de 2001 num dos maiores sucesso da história da avenida dos megamusicais.

O filme que a coreógrafa da peça, Susan Stroman, assina agora remete ao sucesso do palco, não ao flerte com a incerteza de 1968. Não são só os números musicais, acrescidos nesta versão, com 46 minutos além do original, que fazem a diferença. Com sua gana de blockbuster, de retorno garantido, o novo Os Produtores é uma espécie de jogo de vencedores, enquanto o filme de Brooks era uma partida quase perdida, que começava com desvantagem no placar. Isso tudo se reflete no espírito dos filmes. O de 1968 era um elogio mambembe da arte, do riso, contra a barbárie. O de 2005 é o elogio da indústria da arte.

Desmunhecando Hitler

Isso se reflete, na trama em si, na maneira como Bloom é retratado. Wilder interpretou-o como se fosse apenas um apêndice de Bialystock (inclusive o monólogo emocionado no tribunal não estava incluído no roteiro original de Brooks, foi invenção de Wilder). Já Broderick, este sim protagonista, no sentido de ser o centro da ação, incorpora totalmente o homem deslumbrado pelo showbiz. Para ele não importa tanto o dinheiro, mas fazer parte daquele mundo, com direito a usar o chapéu do produtor. Desde o ótimo número musical da firma de contadores até a passagem pelo Rio de Janeiro, o filme não se furta a mostrar Bloom como uma pessoa que desabrochou na indústria do sonho e do entretenimento - e que lá encontrou sua vocação.

É legítimo, então, esperar que o filme de 2005 seja menos corrosivo que o de 1968? Não exatamente. A ironia e a incorreção política continuam ali, mas agora um pouco, digamos, travestida. Impregnado de Broadway, o novo Os produtores é um filme mais gay, muito mais gay, com direito a Jai Rodriguez desfilando sem camisa. Se caiu fora o Hitler hippie que Dick Shawn (1923-1987) fazia com brilho em 1968, agora desponta o Hitler desmunhecado de Gary Beach, o grande achado e o grande trunfo do remake.

De resto, Os Produtores continua sendo um ótimo programa pela sintonia que Lane e Broderick cultivaram em cena. Esta é uma lição que vigora desde o vaudeville dos Irmãos Marx, nos anos 1920: teste, depure, experimente à exaustão uma piada nos palcos antes de conduzi-la ao cinema; a piada curtida pelo termômetro do riso da platéia ficará muito melhor na tela depois de reajustada. E os onze meses que a dupla passou junta na Broadway se reflete agora na tela: timing perfeito nos diálogos, nas tiradas físicas. Aliás, o fato do elenco principal ser o mesmo da montagem de 2001/2002, Beach e Roger Bart inclusos, contribui muito para o bom resultado na tela.

A refilmagem, em resumo, é um filme mais "profissional" que o de 1968. Em termos de entretenimento, isso é um elogio.

Nota do Crítico

Ótimo
Marcelo Hessel

Os Produtores

The Producers

2005
30.12.2005
134 min
Comédia
País: EUA
Classificação: 12 anos
Direção: Susan Stroman
Elenco: Matthew Broderick, Uma Thurman, Will Ferrell, Eileen Essell, Gary Beach, Michael McKean, David Huddleston, Debra Monk, Andrea Martin, Jon Lovitz, Meg Gillentine, Bryn Dowling, Kevin Ligon, Ray Wills, Marilyn Sokol, Brent Barrett, Tory Ross, Brad Oscar, Nathan Lane, Roger Bart