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Os Pinguins do Papai | Crítica

Mark Waters tem bom olho para historinhas edificantes mas não tem pulso pra segurar Jim Carrey

30.06.2011, às 17H07.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 14H23

"Nenhum pinguim foi ferido neste filme, já Jim Carrey foi bicado sem dó, mas ele mereceu", brinca o aviso nos créditos finais de Os Pinguins do Papai. É uma brincadeira com fundo de verdade. A persona cômica sempre dominante de Jim Carrey prejudica o filme em seus momentos dramáticos decisivos.

os pinguins do papai

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Não foi por falta de esforço do diretor Mark Waters (As Crônicas de Spiderwick). Ele pega uma ideia genérica - "É um filme divertido, e tem pinguins. Você sabe como pinguins são populares", simplificou ao Hollywood Reporter o vice-presidente de distribuição da Fox, Bert Livingston - e a trabalha visualmente com consciência.

A ideia de Waters, aparentemente simples, é mostrar como os bichos desestabilizam o universo do Sr. Popper (Carrey), um incorporador de imóveis de Nova York especializado em comprar prédios velhos e ocupar os terrenos com edifícios novíssimos. Tudo relacionado ao Sr. Popper é limpo e moderno, do seu terno azul escuro impecável à mobília do seu apartamento e aos seus produtos Apple. Como na maioria dos contos morais, a apresentação impecável esconde um vazio interior.

A própria imagem que um pinguim transmite à primeira vista é de elegância - design clean, esguio, cores equilibradas -, mas basta a ave grasnar ou simplesmente se mover, com seus passos tortos, para que essa fachada se desfaça. Waters aplica esse conceito ao filme: o Sr. Popper ganha vida à medida em que sua rotina, antes ilibada e perfeita, é desordenada pelos bichos.

Embora o roteiro se renda a obviedades - tem a obrigatória piada das fezes, contada mais de uma vez - Waters elege alguns cenários que contribuem para seu objetivo de anarquizar a ordem, como na cena da bagunça dentro do Guggenheim, museu-símbolo da arquitetura minimalista em Nova York. A profusão de brancos e pretos ao longo do filme é compensada com o exagero de cores do final, como um inverno vencido pela primavera. Tudo pensado com visível cuidado, enfim.

Mas tem Jim Carrey... Inicialmente, o ator contribui. Ele sabe fazer cara de coitado nos momentos que o filme pede. A barba rala, as olheiras e o semblante à beira do desespero são o oposto do penteado certinho do começo. Mas de repente a coisa descamba, Carrey faz uma piada que rompe a quarta parede (como no momento em que imita os heróis que correm em câmera lenta nos clímaxes) e simplesmente acaba com o clima da cena.

É por isso que aquela frase pós-créditos soa como uma pequena vingaça de Mark Waters, diretor que tem bom olho, mas não tem pulso para controlar seu astro.

Em um dos seus momentos de improviso desnecessário, Jim Carrey faz a sua já famosa imitação de James Stewart. Não deixa de ser irônico: Carrey está em Os Pinguins do Papai fazendo um papel stewartiano por excelência, o adulto ultrarresponsável que reaprende a "sentir", e os ecos de Frank Capra podem ser ouvidos por todos os cantos... Mas Carrey LITERALMENTE imita Stewart, e arruina o encanto.

Não há suspensão de descrença que resista a um choque de metalinguagem desses.

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Nota do Crítico
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