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Os EUA Contra John Lennon | Crítica

Documentário explora a veia ativista do Beatle

01.04.2010, às 11H07.
Atualizada em 08.11.2016, ÀS 08H01

É difícil para alguém com menos de 40 anos lembrar disso, mas já houve uma época em que os EUA ainda não eram governados pelo abananado George W. Bush, em que uma guerra nonsense era questionada com força pela população estadunidense, e em que a luta da cultura pop contra os poderes constituídos era mais consistente do que os argumentos de Michael Moore.

Os EUA X John Lennon

Estamos falando aqui do final da década de 60, quando Richard Nixon comandava o xadrez sangrento da Guerra do Vietnã e suava para enfrentar a opinião pública. Além de se preocupar com a mídia e com os bastidores do jogo político, naquela época ainda claramente polarizado, o então presidente tinha um belo calo na figura dos artistas, que inflamavam a população contra suas decisões.

John Lennon é o mais notório dessa lista. Não mais o Beatle de cabelo arrumadinho, logo após o fim da banda com Abbey road, o inglês investia cada vez mais em sua nova persona, com carreira solo e ao lado de sua musa Yoko Ono.

Morando nos EUA, Lennon se tornou uma metralhadora de marca maior, cada vez mais mirada na Casa Branca. Talvez por influência de Yoko, talvez pelo seu saco cheio com a situação mundial, o músico se politizou, aliando-se a figuras ativistas, como o líder do grupo Panteras Negras Bobby Seale, contra todas as decisões do governo Nixon.

É essa situação que Os Estados Unidos contra John Lennon se propõe a explorar, em sua montagem cuidadosa. O documentário resgata a história de então, costurando vídeos da época com depoimentos de nomes que vão de Gore Vidal ao apresentador sensacionalista Geraldo Rivera.

Em retaliação à sua posição de "figura pública com opinião", Lennon tornou-se alvo preferencial de Nixon e de J. Edgar Hoover, o mítico diretor do FBI. A agência espionou o músico, levantando um imenso dossiê. A guerra viria à tona quando a justiça decidiu deportá-lo, usando como desculpa uma apreensão de maconha na Inglaterra, anos antes.

Os Estados Unidos contra John Lennon tem lá suas falhas, como não se aprofundar no que Lennon realmente defendia (bem diferente do ele atacava) ou dar a entender que Sean foi seu primeiro filho. Mas cumpre seu papel ao apresentar, a um público que não tem um forte referencial ao microfone, sua figura contestadora. Devia servir de exemplo para esse bando de artistas franguinhos que estão por aí. O mundo precisa, cada dia mais, de um galo bravo feito Lennon.

Nota do Crítico
Bom