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Os Candidatos | Crítica

Cada vez mais político, Jay Roach faz o seu Trocando as Bolas

18.10.2012, às 18H00.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H43

Anos antes de Barack Obama prometer um diálogo entre republicanos e democratas em sua campanha para presidente, o diretor Jay Roach já transformava liberais e conservadores em uma grande família, em Entrando Numa Fria Maior Ainda. O pastelão abertamente político de 2004 transformou Roach - até então associado com os três Austin Powers - num novo John Landis, um diretor capaz de subverter estereótipos em sátiras sociopolíticas sem perder a comédia física de vista.

os candidatos

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Não por acaso, Os Candidatos (The Campaign) ecoa uma das obras-primas de Landis, Trocando as Bolas (1983), e coloca Dan Aykroyd novamente em uma inversão de papéis orquestrada pelos "poderosos". Na trama, dois irmãos industriais (Aykroyd e John Lithgow) que financiam a campanha de Cam Brady (Will Ferrell) ao Congresso decidem trocar de candidato, depois que o político veterano se envolve num escândalo sexual. Para o lugar de Cam, eles escolhem o estúpido Marty Huggins (Zach Galifianakis), pai de família e dono de pugs que, uma vez eleito, certamente não questionará os interesses econômicos dos irmãos.

Assim como em Trocando as Bolas, porém, os magnatas subestimam o senso de responsabilidade do idealizado homem comum. No geral, Jay Roach faz aqui um filme de lição de moral mais protocolar, que debate o sistema de financiamento de campanhas e patina em algumas ingenuidades destes EUA indignados pós-crise, como criticar a figura do lobista, que nunca vai deixar de existir, e demonizar a indústria chinesa - como Fábrica de Loucuras (1986) fazia na Sessão da Tarde com a indústria japonesa de carros.

O que Os Candidatos tem de melhor não é esse bom-mocismo patriótico que se apodera do filme em alguns momentos, e sim seu retrato da absurda rotina de ação e reação que são as campanhas eleitorais, entre trocas de ofensas e flertes de ocasião com todo tipo de eleitorado. Se Virada no Jogo, provavelmente o melhor filme de Roach, já mostrava como pode ser tragicômica a obsessão dos políticos pelo pragmatismo (Julianne Moore não faria feio com sua Sarah Palin entre Ferrell e Galifianakis), em Os Candidatos o diretor trabalha isso de forma escalonada - mais um pouco e só faltaria os dois personagens botarem a mãe no meio.

Quando agendou a estreia do filme para as vésperas do segundo turno das eleições municipais no Brasil, a Warner Bros. provavelmente não esperava que os debates improdutivos entre petistas e tucanos em São Paulo se confundiriam tão bem com a ficção. Os memes fotográficos de José Serra e a inépcia discursiva de Fernando Haddad encontram em Os Candidatos um espelho incômodo - Will Ferrell socando bebês e Galifianakis gaguejando desastradamente não estão, assim, tão longe da realidade.

Mas qual eleição não se torna, sob o peso da exposição pública prolongada, um show de horrores midiático? Talvez essa seja, no fim, a principal questão levantada por Os Candidatos.

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Nota do Crítico
Bom