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Oito Mulheres e um Segredo | Crítica

Filme segue fórmula da franquia, mas é mais do que uma versão feminina de Onze Homens e Um Segredo

07.06.2018, às 16H47.
Atualizada em 07.06.2018, ÀS 19H02

Se for Ele é notado, se for Ela é ignorada. E, pela primeira vez, queremos ser ignoradas”, explica Debbie Ocean (Sandra Bullock) sobre a ausência de homens na equipe que roubará um colar avaliado em 150 milhões durante o Met Gala, baile anual oferecido pela editora da Vogue Anna Wintour no Metropolitan Museum of Art, em Nova York. A frase, mais do que responder àqueles que culpam o feminismo por todos os males do mundo (e usam qualquer predominância do gênero como argumento de que o movimento não busca igualdade e sim dominação), deixa claro que Oito Mulheres e Um Segredo (Ocean's Eight) não é apenas a versão feminina de Onze Homens e Um Segredo (Ocean's Eleven). Ser mulher aqui faz parte do plano.

Debbie Ocean é irmã de Danny Ocean (George Clooney), o trambiqueiro famoso por usar estratégias mirabolantes para roubar cassinos com seu grupo de amigos especialistas. O crime é o negócio da família e, assim como Danny, Debbie passou alguns anos na prisão, arquitetando o roubo perfeito (e uma pequena vingança). Ao lado de Lou (Cate Blanchett), ela começa a colocar seu plano em ação e recruta a estilista endividada Rose Weil (Helena Bonham Carter), a especialista em diamantes Amita (Mindy Kaling), a hacker Nine Ball (Rihanna), a ladra mão leve Constance (Awkwafina), a estrategista Tammy (Sarah Paulson) e a atriz/diva Daphne Kluger (Anne Hathaway).

Nesse contexto, o filme reproduz exatamente a mesma fórmula do original, com o Rat Pack de Frank Sinatra em 1960, e do remake dirigido por Steven Soderbergh em 2001. Essa não é uma continuação, mas um “requel”, a estratégia hollywoodiana para conquistar um novo público e manter o antigo (usada, por exemplo, em Star Wars e Jurassic Park). A estrutura principal do roteiro de Gary Ross (que também dirige) e Olivia Milch é praticamente a mesma dos outros filmes, tanto na relação das personagens, como nos mecanismo da narrativa para a execução e desfecho do plano, passando pelas participações de celebridades. Ao mesmo tempo, a ligação com os longas estrelados por Clooney e Brad Pitt é direta, com as oito mulheres e os onze homens coexistindo em uma mesma franquia.

O uso descarado dessa fórmula garante um filme que é essencialmente divertido, sem grande compromisso com a realidade ou pretensões além de provocar algumas risadas e despertar a curiosidade do público sobre como o plano será executado (e se será bem-sucedido). Assim, cada uma das oito personagens principais executa a sua parte, mas elas não são suficientemente desenvolvidas para deixar a sua marca além da fama das atrizes que as interpretam. O apelo está mesmo em ver a carismática reunião de Bullock, Blanchett, Rihanna, Bonham Carter, Hathaway e Cia. em um filme de assalto.

O que torna Oito Mulheres e Um Segredo mais do que uma versão feminina do original, apesar de ser um reflexo estrelado por mulheres dos seus antecessores, é a forma como o roteiro brinca com estereótipos femininos em um gênero cinematográfico predominantemente masculino. O cenário é um dos maiores eventos do calendário de moda e o objeto a ser roubado é uma joia, criada para ser desejada por mulheres e causar inveja ao ornar o pescoço perfeito. Quando essa fonte de rivalidade feminina é dividida graças à colaboração entre mulheres para realizar desejos bastante diferentes, o filme sem querer desconstrói alguns clichês sobre como uma "moça" é ou deve se comportar. Como Debbie diz em certo momento, o plano é muito maior do que todas elas: em algum lugar há uma garotinha que sonha em ser uma criminosa.

Nota do Crítico
Bom