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Crítica

O Vingador do Futuro (2012) | Crítica

Versão genérica tira do clássico tudo o que o tornou memorável

16.08.2012, às 18H28.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H44

Clássico de 1990 dirigido por Paul Verhoeven, O Vingador do Futuro (Total Recall) foi um dos tantos filmes daquela época que sacudiram o cinema de ficção científica pela mistura inusitada de ação, humor, reviravoltas inteligentes e surpreendentes efeitos especiais. Sob a inspirada condução do diretor, que realizou outro filme extremamente apreciado do gênero, RoboCop, as ideias difíceis de Philip K. Dick (alucinado autor cujas obras originaram filmes como Blade Runner e Minority Report), ganharam uma cobertura pop que mesmo hoje, 20 anos após seu lançamento, mantém o filme como um dos mais cultuados da sci-fi.

O Vingador do Futuro

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O Vingador do Futuro

Na Hollywood reciclada de hoje, qualquer cineasta que demonstre competência para manter o foco e a atenção do espectador mais do que 5 minutos (é o intervalo entre as olhadas no smartphone) pode receber a oportunidade de refilmar sucessos do passado. Se já funcionou antes, pode funcionar novamente, já que a nova geração é totalmente desinteressada da história do cinema (ou da TV, ou da música, ou dos quadrinhos...) e prefere consumir o que está novo na prateleira a buscar os originais.

Assim, Len Wiseman - diretor camarada, com quem a Sony está habituada a trabalhar na série Anjos da Noite - teve a impossível tarefa de tentar equiparar-se a Verhoeven. Obviamente, não conseguiu. O filme abusa dos melhores efeitos especiais e eleva a ação do original à décima potência, com a edição de Christian Wagner usando a velocidade para supervalorizar as coreografias de luta e perseguições, como já havia feito em suas colaborações igualmente frenéticas com Michael Bay e Justin Lin.

Sobra deslumbre visual, mas falta estofo. O longa tira da história seus elementos mais psicodélicos, que davam boa parte do charme do original. Fica a estrutura, mas saem os mutantes, os telepatas, os alienígenas e Marte no remake para entrar a disputa por territórios em um planeta devastado por uma guerra química. Curiosamente, foi mantida a famosa "prostituta dos três peitos" do original, algo que não faz sentido, já que os mutantes foram removidos da nova história, que preza pelo realismo. Puro "fan service" (que reduz o fã do original a um fetichista) e uma menção, entre algumas outras, do filme de Verhoeven apenas como alívio cômico.

O abismo entre os dois protagonistas - Arnold Schwarzenegger e Colin Farrell - também é demérito ao novo. Um é o maior ícone do cinema de ação de todos os tempos. O outro é esforçado, mas problemático. Bom ator, mas não tem o carisma necessário para segurar um filme assim. Enquanto Schwarzenegger fazia caras e bocas e gritava com seu sotaque carregado, Farrell se esforça para parecer perdido e aflito, o que ajuda a dar a impressão que este O Vingador do Futuro se leva a sério demais.

A ficção científica costumava olhar para o futuro com uma mistura de fascínio, preocupação e otimismo. Mestres como Isaac Asimov e Arthur C. Clarke ajudaram a evoluir a raça humana através de seus sonhos. Philip K. Dick, por sua vez, era o oposto disso; a nova geração, obcecada com as drogas sintéticas e que via o futuro do planeta (e além) com enorme pessimismo. Suas ideias foram, em parte, o berço do movimento cyberpunk - e o novo Vingador do Futuro acompanha isso. Por esse lado, o remake é mais próximo das visões de K. Dick e do "alta tecnologia, baixa qualidade de vida" do sub-gênero criado por William Gibson. É mais sombrio, mais realista, mas muito menos divertido.

Talvez se eu não conhecesse - e adorasse - o filme de 1992, poderia até me empolgar mais com a refilmagem. Afinal, a estrutura básica da trama é igualzinha, Kate Beckinsale está surtada e eu poderia ver o brilhante Bryan Cranston (o novo Cohaagen) até em comercial de pasta de dente. Mas a ausência de qualquer inovação verdadeira, de criatividade, faz com que este O Vingador do Futuro pareça uma versão escovada com palha de aço do original.

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