Filmes

Crítica

O Sacrifício | Crítica

O sacrifício

26.10.2006, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H21

O sacrifício
The Wicker Man
EUA/Alemanha, 2006
Suspense - 102 min

Direção: Neil LaBute
Roteiro: Neil LaBute, baseado em roteiro de Anthony Shaffer

Elenco: Nicolas Cage, Ellen Burstyn, Kate Beahan, Frances Conroy, Molly Parker, Leelee Sobieski, Diane Delano, Michael Wiseman, Erika-Shaye Gair, Sophie Hough, David Purvis, James Franco, Jason Ritter

A estrutura gigante de palha continua a mesma, como se fosse uma réplica tirada das cinzas. Todo o resto em O Sacrifício (The Wicker Man, 2006), remake do cult O Homem de palha, mudou.

A começar pelo cenário. A história escocesa que o diretor britânico Robin Hardy concebeu em 1973 agora se passa nos Estados Unidos. Edward Malus (Nicolas Cage) decide, após um acidente na estrada, descansar um pouco do serviço de policial rodoviário. Recebe em casa, então, uma carta da antiga noiva: a filha dela está desaparecida e a mulher pede ajuda a Edward para encontrá-la. Parte então o policial a Summersisle, remota ilha da costa do Maine, local do sumiço.

Trata-se de uma comunidade matriarcal fechada a visitas. Edward faz valer sua autoridade e penetra na ilha para tentar encontrar a menina - e a mãe, Willow (Kate Beahan), cujo abandono às vésperas do casamente ele nunca conseguiu entender. O lugar parece parado no tempo: mulheres de cabelos longos e roupas antigas, casinhas idílicas, linguajar antiquado. Os homens são poucos, e desprezados. Ninguém sabe do desaparecimento da tal menina. Não sabem ou não querem dizer.

A base dessa sociedade, como no original, é o paganismo. Mas o diretor da refilmagem, Neil LaBute (Possessão), anula o conflito ao tirar do protagonista uma característica crucial do filme de 1973: o policial não é um cristão carola. O que ele introduz aqui é o conceito de matriarcado. No filme de Hardy, Christopher Lee interpretava o líder da seita de Summerisle. No filme estadunidense entra a ótima Ellen Burstyn.

O que isso representa? Não interessa a LaBute o choque de religiões, mas interessa o choque de culturas. E ele volta o foco para uma guerra de sexos de forma bastante interessante. As cenas de Edward aplicando multas e parando carros no início não são gratuitas. Ali ele representa o macho, está em seu domínio. Quando segue para Summersisle, perde o poder. O distintivo e o terno escuro viram piada. No começo do filme Edward aparece de óculos e capacete - imagem impenetrável, invulnerável. Na ilha Nicolas Cage acaba emasculado.

Como? Basta ver sua cara de paspalho revoltado diante de um grupo de menininhas loiras dizendo que homem é apenas um símbolo fálico. E cara de paspalho Cage faz muito bem.

O Sacrifício trabalha muito bem com essa questão da autoridade perdida. A certa altura o policial faz uso da força - e é igualmente interessante notar como LaBute trabalhou o esgotamento do macho até aquele ponto, até transformá-lo em um ser irracional. É o velho medo existencial, que vem desde a revolução do feminismo, de se ver dispensado de suas funções. Edward Malus é apenas um personagem, mas LaBute conseguiu fazer dele um homem do nosso tempo, um homem em crise.

Nota do Crítico
Ótimo