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Crítica

O Presente | Crítica

Joel Edgerton estreia na direção de longas com suspense envolvente

02.12.2015, às 18H31.

Seja no casarão colonial isolado ou na casa de arquitetura modernista numa grande metrópole, não há refúgio seguro para a família americana nos suspenses hollywoodianos. O que diferencia os casos, às vezes, é se a vítima merece ou não o castigo que se avizinha - uma tendência sádica que se intensificou desde o sucesso de Jogos Mortais e dos demais torture porn.

Em O Presente (The Gift, 2015), estreia como diretor do ator Joel Edgerton, o grande mistério é desvendar a hipocrisia que nos impede de ter plena empatia com o drama de Simon (Jason Bateman) e Robyn (Rebecca Hall), casal que acaba de se mudar para os arredores de Los Angeles, numa daquelas belas casas envidraçadas que dão vista para todo o vale. Simon está retornando para a cidade, onde cresceu, e logo reencontra um amigo de infância, Gordon, vivido por Edgerton, que Simon chamava de "Gordo" na escola. Quando Edgerton surge em cena com o cabelo pintado e um cavanhaque sinistro, já fica claro que o carente Gordo vai dar a maior canseira no casal.

Uma vantagem de O Presente em relação a suspenses similares, que preservam segredos dos personagens até uma revelação final, é que o filme não ordena sua exposição só em função desse final. O foco de Edgerton não é, em outras palavras, só colocar peças na mesa, aos poucos, até que a solução do quebra-cabeças fique clara. Muitas dessas peças servem, também, para dar a Robyn e Simon uma história juntos, um passado que, assim como a trama de Gordon, tem muitas coisas mal resolvidas a vir à tona.

O melhor de O Presente são esses momentos do casal, e como a dinâmica problemática dos dois vai aos poucos mostrando que talvez o principal problema de Robyn e Simon não seja Gordon. Embora o filme facilite as coisas ao vilanizar um dos protagonistas de forma pouco sutil, Edgerton faz aqui um suspense envolvente que flerta com uma tradição muito particular no gênero, a do terror de maternidade. Sempre que encaram a paternidade como a perpetuação de nossas fraquezas, filmes como O Presente funcionam melhor que muito contraceptivo.

Nota do Crítico
Bom