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O Pacote Completo | Crítica

A diretora de Hanami - Cerejeiras em Flor filma na Espanha e ataca de Almodóvar

28.09.2014, às 09H51.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

Como uma obrigatoriedade, a diretora alemã Doris Dörrie vai à Espanha filmar O Pacote Completo (Alles Inklusive, 2014) e sua comédia melancólica ganha histeria e cores exageradas. Que o único referencial que as pessoas tenham hoje do cinema espanhol seja esse, o de Pedro Almodóvar, seria uma falha da Espanha?

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De qualquer modo, a diretora de sucessos do circuito alternativo como Homens (1985) e Hanami - Cerejeiras em Flor (2008) volta a falar de personagens de meia idade em crise existencial e em trânsito entre culturas distintas, agora numa chave histórica e socioeconômica: a Europa dos anos 1960 e a Europa do século 21 representadas por uma ex-hippie alemã que retorna à praia espanhola de Torremolinos, 50 anos depois, para se hospedar num resort e acertar contas com o passado, enquanto sua filha, na Alemanha, caminha para a incontornável solteirice, presa a algum trauma que não se define.

As presenças das atrizes Hannelore Elsner e Nadja Uhl nesses dois papéis serão bem familares a quem viu Hanami, e Dörrie acrescenta aqui um par de figuras almodovarianas como o travesti sensível (cuja maquiagem obviamente foi feita para borrar na chuva) e a mulher briguenta. Tipos que surgem ridículos - cidadãos de uma Europa pós-crise, ociosa, perdida - e aos poucos ganham humanidade e empatia.

O caminho até essa redescoberta é que é bastante tumultuado. Em pouco mais de duas horas a câmera de Dorrie filma coisas sem critério, planos que não dizem nada, e seu roteiro perde o foco entre muitos coadjuvantes pensados para se somar ao pequeno painel europeu que o micromundo do filme sugere. O Pacote Completo termina por esgotamento, uns bons 15 minutos antes do fim, mas pelo menos Dorrie não trata seus personagens com complacência.

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Nota do Crítico
Bom