Filmes

Crítica

O Mistério do Relógio na Parede

Trocas de Jack Black e Cate Blanchett se destacam em adaptação engessada

19.09.2018, às 17H54.
Atualizada em 20.09.2018, ÀS 10H13

Elemento importante de histórias de fantasia, o senso de ingenuidade perdida é central em O Mistério do Relógio na Parede, misto de terror e comédia infantil cujos temas giram em torno do resgate da inocência. Esse projeto já vem de sua concepção: o filme da Universal é produzido pela Amblin de Steven Spielberg, cujos filmes oitentistas são evocados frequentemente hoje como emblemas dessa inocência.

Universal/Reprodução

Em seu primeiro longa com censura abaixo de 17 anos nos EUA, o diretor Eli Roth (O Albergue) assume para si essa missão com certa timidez; embora o filme recorra ao imaginário do gore em chave pré-adolescente (vísceras e sangue são substituidos por banhos de polpa de abóbora, por exemplo), Roth pega leve na assinatura. Talvez inocência não seja realmente o forte do seu cinema, marcado cada vez mais por uma consciência autoparódica (notadamente após Bata Antes de Entrar e Desejo de Matar) - o oposto da ingenuidade.

Na adaptação do livro de John Bellairs, Lewis (Owen Vaccaro, bom de careta e carisma) já começa órfão, chegando sozinho à cidade New Zebedee para morar com seu excêntrico tio Jonathan (Jack Black). Lá Lewis descobre que está cercado de bruxos e se inicia também nas artes da magia, que serão necessárias quando o garoto inadvertidamente ressuscita o feiticeiro satanista Isaac Izard (Kyle MacLachlan). Cate Blanchett faz uma coadjuvação de luxo no papel de Florence Zimmerman, companheira de Jonathan.

Seguindo então contra sua própria vocação, Roth emula Poltergeist e A Hora do Espanto nessa tentativa de reviver o terrir infantil, e no geral o filme parece mais derivativo de Spielberg e Robert Zemeckis do que propriamente uma releitura pós-irônica do subgênero. Se Roth não se sai tão bem na ação e nos sustos, o texto sarcástico sobressai e revela onde o diretor transita melhor; as trocas entre Florence e Jonathan, envoltas no encanto misterioso da relação dos dois, são o ponto alto do filme.

Roth diz em entrevista que assistir a Jack Black e Cate Blanchett duelando verbalmente lembrou-o das comédias screwball como Jejum de Amor, e nessas horas é evidente que o diretor conhece suas referências e sabe do que está falando. É uma pena, porém, que isso não se transfira automaticamente para a tela em O Mistério do Relógio na Parede, e a encenação engessada aos poucos mina os potenciais da adaptação.

 

Nota do Crítico
Regular