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Crítica

O Livro dos Recordes de Shutka | Crítica

O livro dos recordes de Shutka - Festival do Rio 2006

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09.10.2006, às 00H00.
Atualizada em 02.11.2016, ÀS 06H08

O livro dos recordes de Shutka
The Shutka Book of Records

Sérvia e Montenegro/República Tcheca, 2004
Documentário - 77 min

Direção e roteiro: Aleksandar Manic

Elenco: Bajram Severdzan
O livro dos recordes de Shutka (Knjiga Rekorda, 2005) do diretor Aleksandar Manic parece saído de um programa de comédia nonsense. O documentário apresenta o subúrbio de Shutka, que fica em Skopje, capital da Macedônia. O lugar fica perto da fronteira com o Kosovo. O nome na tradução significa escombros. É derivado de um terremoto devastador nos anos 60. Chegou a ser transformado em um depósito de lixo, mas hoje em dia é autoproclamado por seus habitantes a capital mundial dos ciganos. Eles chegam a chamá-la de Pequena Paris. Mas o certo seria denominá-la como a cidadela com o maior número de lunáticos do planeta. Seus habitantes não conseguem parar de disputar alguma modalidade bizarra de competição. Lá, todos são campeões de alguma coisa. Coisas como expulsar demônios, caçar vampiros, lutar com gansos, sexo, circuncisão, música, ficar em cemitérios, entre outras esquisitices.

O filme tem como narrador o Dr. Koljo, ou melhor, o ator Bajram Severdzan. Seu tom de voz é hilário. Ele nos guia pela cidade apresentando todos esses competidores que se orgulham de praticar as modalidades mencionadas acima. Apesar da pobreza, não deixam de gastar altas somas de dinheiro para vencerem, por exemplo, um campeonato de circuncisão. A cada novo grupo visitado, Dr. Koljo coleta depoimentos, faz comentários humorísticos e realiza entrevistas. Como a feita com o campeão da disco music, tio Refet. Ele tem mais de 70 anos, mas se vangloria de beijar mulheres com a metade de sua idade e ter o maior número de ternos e gravatas francesas no armário. Sua contraparte competidora é tio Alfonso, que tem 75 anos e também se diz o maior amante do vilarejo. E, claro, fala a quem quiser ouvir que tem mais ternos que Refet. Jura que tem um terno original usado pelo ditador deposto da Iugoslávia, Josip Broz Tito. Para completar a sandice, resolveu rebatizar sua esposa com o nome de uma personagem de novela mexicana.

E é assim que as coisas funcionam em Shutka. Todas as modalidades possuem competidores jurando serem os verdadeiros campeões. Mas vale dizer que ninguém realmente possui talento algum. Os participantes é que se julgam os melhores e fazem de tudo para confirmar essa impressão. Tudo isso é feito sem nenhum tipo de violência. Todos convivem sem tabus. Não existe vulgaridade. Até o preconceito parece ter sido eliminado. Homossexuais e travestis são respeitados e membros da comunidade.

Isolados em um subúrbio com poucos empregos e dinheiro, a mania de se autoproclamar campeão de algo é uma forma de se sentir especial e se tornar um membro crucial para a comunidade. Talvez seja a maneira encontrada para combater uma vida previsível. E lutar para manter o título se torna uma razão para viver.

O grande sacada de Aleksandar Manic foi ter amparado seu documentário com pessoas que parecem personagens criados para uma ficção. Todos estão à vontade na frente da câmera. Eles parecem estar seguindo um roteiro. As imagens são engraçadíssimas e são envoltas por uma trilha sonora que tem inserções da música de Nino Rota composta para , de Federico Fellini. Inclusive alguns moradores lembram muito os típicos personagens felinianos.

Entre os quadros, Manic registra cenas em preto e branco e acelera estes fotogramas, remetendo às antigas comédias do cinema mudo. Esse clima de felicidade acontece dentro de um caos organizado e fica a impressão de que a verdadeira felicidade está nas coisas simples e pequenas que acontecem ao nosso redor. Basta prestar atenção.

Nota do Crítico

Bom
Mario "Fanaticc" Abbade

O Livro dos Recordes de Shutka

The Shutka Book of Records

2004
Documentário
País: Sérvia e Montenegro/República Tcheca
Classificação: LIVRE