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O Legado Bourne | Crítica

Quarto filme da série tem ação com menos emoção

06.09.2012, às 20H00.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H34

Desde que Matt Damon é resgatado da água e não sabe sequer o seu nome, o público é fisgado pela curiosidade de descobrir o que aconteceu, de onde vêm suas habilidades e, principalmente, descobrir quem ele é. A ação desenfreada, o teor político e o desdobrar de suas andanças pelo mundo, escapando sempre por um triz da morte e chegando cada vez mais perto da verdade, levou o público três vezes ao cinema e transformou a série Bourne em uma franquia de 1 bilhão de dólares faturados, solidificando também o nome de Damon entre os grandes astros da Hollywood atual.

O Legado Bourne

O Legado Bourne

O Legado Bourne

Tudo isso que funcionou no passado foi colocado em xeque quando o ator e o diretor dos dois últimos filmes, Paul Greengrass, decidiram não fazer um quarto capítulo. E Damon ainda saiu atirando, falando que o roteiro de O Últimato Bourne escrito por Tony Gilroy era "fim de carreira". Coube então a Gilroy a tarefa de provar seu valor, trazer novas ideias e ainda assumir a função de dirigir este quarto filme. A saída encontrada por ele foi dar um passo atrás - ou melhor, para o lado - e criar um universo paralelo ao que já havia sido visto nas telas. É assim que o público descobre a existência de outros programas de criação de super-espiões, que aperfeiçoaram o que estava sendo feito na Operação Treadstone.

Um destes "experimentos" se chama Aaron Cross (Jeremy Renner), o novo protagonista. Quando o vemos pela primeira vez, ele está no Alasca brigando com lobos, tentando chegar até a cabana onde vive um de seus pares (Oscar Isaac). No bate-papo entre os dois agentes vão surgindo detalhes de como eles são forjados. Cross está ali atrás de pílulas, pois seu estoque está próximo do fim. Ele não sabe, mas as verdes ajudam a aumentar as habilidades físicas, diminuir a dor e o tempo de recuperação, enquanto as azuis servem para aumentar a inteligência, os sentidos e capacidade cognitiva.

As tais drogas são obra de uma empresa farmacêutica ligada à alta cúpula da inteligência estadunidense. Com os desdobramentos do que estava acontecendo em O Últimato Bourne, toda esta nova operação tem de ser desativada pelo Coronel Eric Byer (Edward Norton) e assim vão tombando os agentes e todas as pessoas envolvidas, sobrando apenas Cross e a Dra. Marta Shearing (Rachel Weisz), uma das cientistas responsáveis pela criação dos tais medicamentos. E por uma questão de sobrevivência os dois se unem.

A aventura dos dois pega um avião e vai até as Filipinas, seguindo a fórmula já conhecida da franquia de rodar o mundo. Mas enquanto a trama ganha novas camadas políticas e vai mostrando a influência cada vez maior de grandes corporações nos governos, a ação se limita a mimetizar o que já havia sido feito anteriormente. Cross corre por cima dos telhados, pula, corre e desarma seus adversários como Bourne. Ou quase isso. Na verdade, há um excesso de cortes na montagem de O Legado Bourne, o que deixa o resultado final artificial e aquém do que faziam Greengrass, Damon e o diretor de fotografia Oliver Wood. Esta opção fica ainda mais visível na longa perseguição de moto que marca o clímax do filme. Cada carro ultrapassado, cada metro andado leva a um take diferente, não dando espaço a sequências mais complexas, que poderiam transportar o espectador para dentro do filme. Não que seja mal filmada ou mal montada, ela é apenas diferente e dá, no máximo, uma grande injeção de adrenalina no público, que pode sair do cinema olhando para todos os lados incessantemente, buscando por perigos ou saídas.

Esta busca por ação acima da emoção deixa pouco espaço para Edward Norton e Rachel Weisz, ótimos atores que acabam com pouco espaço. A Renner - cuja carreira decolou depois de Guerra ao Terror - sobra mais um papel sólido, mas sem brilho próprio. Se em Os Vingadores, Atração Perigosa e Missão: Impossível - Protocolo Fantasma ele fica às sombras de Robert Downey Jr., Ben Affleck e Tom Cruise, a imagem de Matt Damon se mostra ainda forte demais na série Bourne. E Tony Gilroy parece não se preocupar com isso, tanto é que mostra uma foto de Damon na tela em uma cena e o cita em outras tantas, seja nos diálogos ou na telona. Não é à toa que ele próprio já ventila a possibilidade de trazer Bourne para um quinto filme, desta vez ao lado de Cross. A isca está lançada novamente. Resta saber se Damon vai esquecer o que disse e encarar mais uma aventura.

Nota do Crítico
Bom