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Crítica

O Hobbit - A Desolação de Smaug | Crítica

Tom da trilogia fica mais sombrio na metade, mas compensa falta de humor com ação

20.10.2014, às 17H48.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H39

O Hobbit  - A Desolação de Smaug tem duas diferenças fundamentais em relação a seu antecessor. A primeira é o foco em um tema. A segunda é a ação extremamente bem contextualizada.

O Hobbit - A Desolação de Smaug

O Hobbit - A Desolação de Smaug

O Hobbit - A Desolação de Smaug

O tema em questão é a ganância. Basicamente, todos os personagens de O Hobbit enfrentam o desejo pela obtenção de algo e precisam lidar com esse sentimento. Todos têm o potencial de se transformar nos grandes antagonistas do filme, o dragão Smaug (Benedict Cumberbatch), o Mestre da Cidade do Lago (Stephen Fry) ou o Necromante (também Cumberbatch). Bilbo começa a lidar com a nefasta influência do anel que obteve de Gollum, os anões - em especial Thorin (Richard Armitage) - enfrentam a ânsia pelo ouro e até Legolas (Orlando Bloom) cobiça a elfa que não pode ter.

Dessa forma, este segundo O Hobbit é muito mais sombrio e adulto que o primeiro e divertido filme. Qualquer comparação com o Império Contra-Ataca não é exagero, já que o arco pelo qual passam os personagens é bastante parecido - e o final (ou a ausência dele) igualmente agonizante.

Para quebrar o tom melancólico, Peter Jackson emprega empolgantes cenas de ação, sem muito espaço para o humor. As batalhas são de uma fluidez sem igual, com dezenas de coisas acontecendo em tela e tudo absolutamente bem isolado. É possível acompanhar os acontecimentos sem problemas. Os anões funcionam como uma unidade de combate cuja eficiência letal é mascarada pelas formas divertidas. Enquanto isso, os elfos parecem saídos de um anime, dada a sua elegância e velocidade. Contra todos, orcs destilam ferocidade. A sequência em que as três facções engalfinham-se na descida do rio é memorável.

Para tanto, Peter Jackson e as roteiristas Fran Walsh e Philippa Boyens tomam mais uma grande dose de liberdade poética sobre a obra de J.R.R. Tolkien. A elfa criada especificamente para o filme, Tauriel (Evangeline Lilly) é uma Arwen mais selvagem, enquanto os humanos da Cidade do Lago ganham espaço e desenvolvimento que não existe no livro. O arqueiro Bard (Luke Evans) vira uma espécie de revolucionário contra a opressão do Mestre da Cidade e seus asseclas e até o orc Azog, apresentado no primeiro filme, ganha relevância nos segmentos que exploram os posfácios de O Senhor dos Anéis, com a missão de Gandalf (Ian McKellen) em busca da verdade sobre o Necromante.

Se há algo negativo em O Hobbit - A Desolação de Smaug é o didatismo. Personagens diversos referem-se ao anel de Bilbo como "o Precioso", para deixar claro sua possibilidade de derrocada ao "lado negro". Os mesmos explicam inúmeras vezes que o ouro dos anões, hoje de posse do dragão, é capaz de transformar a índole de qualquer um. Ou seja, não cabe ao público apreciar as mudanças... todos os personagens as explicam o tempo todo.

Nada disso é de grande relevância, porém, quando surge o mais belo dragão já criado nas telas. Smaug, o Magnífico, enche os olhos e move-se com peso e ameaça (sem falar no vozeirão de Cumberbatch), em um cenário absurdamente bem trabalhado. Todo o clímax em Erebor, a montanha dos anões, é espetacular - e seria perfeito não fosse a interrupção indesejada do filme, que continua apenas em 2014, com O Hobbit - Lá e de Volta Outra Vez. Se serve como prêmio de consolação, ao menos o último filme promete a maior batalha já vista no cinema. Até lá, só nos resta avaliar este segmento inacabado, apostando no desfecho à altura do que foi criado até aqui.

Nota do Crítico
Excelente!