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Crítica

O Dobro ou Nada | Crítica

Quanto maior a aposta, maior é o tombo

21.02.2013, às 17H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 14H53

Colorir fatos para tornar a ficção mais atraente do que a realidade é prática comum no cinema. O mistério surge quando uma fantástica história real, protagonizada por uma improvável heroína – uma ex-stripper que vai para Las Vegas em busca de uma vaga de garçonete e acaba como apostadora profissional de sucesso –, se torna uma comédia sem graça e inverossímil.

o dobro ou nada

o dobro ou nada

O Dobro ou Nada parecia uma aposta garantida. Direção de Stephen Frears (A Rainha), retomando a parceria com D.V. DeVincentis (roteirista de Alta Fidelidade), um elenco respeitável – Rebecca Hall, Bruce Willis, Vince Vaughn, Catherine Zeta-Jones e Joshua Jackson – e as memórias insólitas da hoje escritora Beth Raymer.

Porém, seja no cinema, na vida real ou no mundo dos "jogos de azar", quanto maior a expectativa, maior pode ser a decepção. Da atuação caricata de Rebecca Hall (que tenta em vão encarnar uma nova Erin Brockovich) ao roteiro raso de DeVincentis, O Dobro o Nada vende mera comédia desajeitada quando poderia mostrar, sem perder o humor, a história de uma mulher que criou seu espaço em uma área dominada por homens.

Beth vai de home stripper a apostadora em poucos minutos e tem seu novo talento justificado com frases soltas como “Sou boa com números”. Sem estabelecer a personagem como mais do que uma avoada de corpo bonito, DeVincentis perde a oportunidade de criar uma protagonista tão complexa e intrigante como a mulher em que ela é inspirada. Já a tensão do ganhar ou perder que rege Las Vegas é resumida a um Bruce Willis que, vestindo camisetas de bandas como New York Dolls, grita, demite funcionários aleatoriamente e atira coisas nas paredes. O filme chega a esboçar um universo onde tudo é "apostável", tomado pela ânsia da “jogada certa”, mas pretere o drama em função de reviravoltas românticas.

Beth Raymer, a verdadeira, superou um currículo de trabalhos ordinários e ilegais para se tornar escritora (e boxeadora amadora finalista do torneiro Golden Gloves). Sua personalidade e capacidade intelectual foram além da sua aparência sexualizada – uma personagem complicada demais para ser verdade. Acabou desbotada pela ficção.

Nota do Crítico
Regular