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Crítica

O Curioso Caso de Benjamin Button | Crítica

Um Fantástico Filme de David Fincher

15.01.2009, às 16H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H43

David Fincher recentemente declarou seu total desinteresse em realizar uma sequência para Se7en - Os Sete Pecados Capitais. "Tenho mais interesse em ter cigarros sendo apagados em meus olhos", comentou na ocasião. O cineasta é categórico: "Eu vivo tentando sair de baixo de minha própria sombra. Eu não quero fazer a mesma porcaria de novo e de novo".

O Curioso Caso de Benjamin Button

O Curioso Caso de Benjamin Button

O Curioso Caso de Benjamin Button

O Curioso Caso de Benjamin Button (The Curious Case of Benjamin Button, 2008) é a mais nova tentativa do diretor nesse sentido. E não poderia ser mais bem-sucedida e distinta de toda a sua brilhante cinematografia. Trata-se de uma fábula, levemente baseada no conto de F. Scott Fitzgerald (1896-1940), escrito em 1922, sobre um sujeito "nascido em circunstâncias incomuns". Benjamin Button nasce velho, às portas da morte e doente. No entanto, do lado oposto da citada "porta"... afinal, a cada minuto ele rejuvenesce, numa dramática inversão do ciclo da vida.

No início o filme assombra pelos efeitos. É inacreditável ver o bebê/velho, abandonado na escada de um asilo, com o rosto enrugado de Brad Pitt. Leva algum tempo para que essa sensação de estranheza se dissipe, mas o ritmo pacato e centrado do primeiro ato é focado nesse sentido. Conforme Benjamin torna-se capaz de sentar-se, começa a balbuciar suas primeiras palavras, levanta-se com o auxílio de muletas, vamos nos acostumando com o corpo senil do astro de Hollywood, criado através de computação gráfica e efeitos práticos de maquiagem. Enfim, quando Benjamin está pronto para explorar o mundo lá fora estamos mais que prontos a acompanhá-lo.

Nesse ponto, O Curioso Caso deveria mudar seu título para O Fascinante Caso... antes de tornar-se O Poético Caso de Benjamin Button. Sim, pois a premissa estranha dá lugar a uma meditação sobre a mortalidade, a passagem do tempo (e dos tempos) e o amor, em uma bem amarrada sucessão de eventos históricos vividos pelo protagonista.

A estrutura lembra bastante Forrest Gump - e não é por acaso: o roteiro é de Eric Roth, o mesmo escritor do premiado filme estrelado por Tom Hanks e divide com o longa anterior o mesmo delicado equilíbrio entre drama, humor e aventura, ainda que Fincher tenha um estilo mais maduro que o de Robert Zemeckis e seja mais esteta e meticuloso que o colega, buscando emoções e atmosferas distintas em cada segmento registrado, como a Segunda Guerra Mundial, o movimento beatnick ou a Nova Orleans pré-Katrina.

Não falta aqui também um relacionamento impossível, como o de Forrest e Jenny. Benjamin "cresceu" ao lado da menina Daisy, que ele encontra nas férias quando a garota vai visitar a avó no asilo. A diferença de idade aparente, porém, os afasta. Até que eles se encontram anos depois - ela 20 anos mais velha, ele 20 anos mais moço. Aliás, a cena em que Cate Blanchett, que vive Daisy, ao pé da escada, reconhece o amigo, é uma das mais emocionantes do filme. O casal protagonista está perfeito, bem como o excepcional elenco de apoio que inclui Tilda Swinton, Taraji P. Henson, Jason Flemyng e Jared Harris.

Não dá para deixar de exaltar também a deslumbrante direção de fotografia de Claudio Miranda, a direção de arte de Donald Graham Burt ou a trilha de Alexandre Desplat. Fincher soube cercar-se como nunca de talentos para realizar sua mais poética obra, uma que - como se ele já não estivesse - o arranca debaixo de sua sombra e o coloca sob as mais brilhantes luzes da sétima arte.

Assista aos clipes do filme

Nota do Crítico
Excelente!