O começo de Dr. T e as Mulheres é de arrepiar! As mulheres vão se contorcer na poltrona pelo desconforto de ver o ginecologista Sullivan Travis (Richard Gere), Dr. T, examinando uma das pacientes de sua clínica. Os homens, por sua vez, vão se sentir mal ao ver tantas mulheres histéricas e falantes juntas num espaço tão pequeno (acredite, dá mais medo que o tal exame!).
O diretor Robert Altman mantém duas de suas características: muitos personagens e discussão de um universo focalizando num pequeno grupo. Desta vez, seu alvo é o sexo feminino. Mulher é o que não falta na vida do cinquentão doutor.
A começar, temos sua esposa, Kate (Farra Fawcett). Sua vida é perfeita. Ela é linda e tem um marido que a ama e idolatra. Tanto carinho, preocupação e afeição fazem com que ela acabe regredindo a um estado infantil. Na cena derradeira em que mostra sua faculdade mental, Kate fica nua em frente à chiquérrima loja de chocolates Godiva, num shopping de Dallas, Texas.
No consultório, Dr. T não tem um único segundo de sossego. Suas pacientes são extremamente carentes e barulhentas... muito barulhentas! Por sorte, ele tem a enfermeira Carolyn (Shelley Long), que visivelmente arrasta um bonde pelo grisalho chefe, fazendo tudo o que pode por ele. Em casa, seus problemas estão longe de serem menores. A cunhada alcoólatra (Laura Dern) invade sua casa com três filhas do tipo capetinhas. Mais: sua filha primogênita (Kate Hudson, de Quase Famosos) vai se casar, enchendo de ciúmes sua irmã (Tara Reid), fã das teorias da conspiração sobre o assassinato de Kennedy.
Para se distrair, Travis vai com os amigos atirar, caçar e jogar golfe - hobbies bem masculinos para compensar a falta de testosterona até então. No clube de golfe, ele conhece Bree (Helen Hunt), instrutora deste esporte elitista. Ela é diferente das outras personagens femininas, pois não demonstra a mesma carência das outras e, claro, por compartilhar com ele um momento que antes era masculino.
O novo trabalho de Altman não consegue ser melhor que seu filme anterior, A Fortuna de Cookie. Mas não por isso é menos importante. Seu principal trunfo é ressuscitar atores que estavam sumidos ou caindo em descrédito. É o caso de Richard Gere, que dá uma guinada de 180 graus em sua carreira depois do fraquíssimo Outono em Nova York. O ator de Uma Linda Mulher consegue imprimir um ar de quem voltou a atuar com prazer - e isso faz diferença na tela! Outra que ressurge das cinzas é Farrah Fawcett. Além de mostrar que está pronta para brigar com Vera Fischer pelo troféu "coroa mais enxuta", a eterna Pantera encarna com perfeição o papel de "louquinha". Se Helen Hunt não apresenta aqui sua melhor atuação, pelo menos ela trocou o personagem de mãe solteira que a levou ao Oscar em Melhor Impossível e que repetiu no decepcionante A Corrente do Bem.
O fim do filme é um ponto de discussão. Ele é tão surpreendente quanto surreal. Parece que foi feito nas coxas e, de tão forçado, chega a ser bom. Mais uma vez Altman consegue chamar atenção sem ser comercial.