Filmes

Crítica

Noite sem Fim | Crítica

Liam Neeson e Jaume Collet-Serra se reúnem em mais um eficiente e descomplicado suspense policial de sínteses visuais

30.04.2015, às 05H31.

Noite sem Fim (Run All Night, 2015), a terceira colaboração do diretor Jaume Collet-Serra com o astro de ação de meia idade Liam Neeson, depois de Desconhecido e Sem Escalas, tem na constância sua maior qualidade. A disposição de aderir ao gênero do suspense policial sem afetações ou ressalvas, e de encontrar sínteses visuais que ajudem a criar situações, personagens e contextos minimamente críveis, é a mesma dos dois filmes anteriores.

Neeson volta ao papel que lhe cabe, a do veterano de armas cheio das cicatrizes da vida. Sai o agente federal de Sem Escalas e agora entra o matador de aluguel Jimmy Conlon, que há décadas trabalha para o mafioso Shawn Maguire (Ed Harris) em Nova York e por conta do ofício se afastou do filho já adulto, Mike (Joel Kinnaman). Quando um incidente coloca Mike na mira de Maguire, Jimmy trai o patrão para proteger o filho que o renega.

Noite sem Fim promove uma variação no batido subgênero do "último serviço do matador" ao contar uma história de redenção que se contenta com a ação bem ritmada, sem a pretensão operística que frequentemente vem no pacote desse tipo de material desde os anos 1970, a clássica história de tragédia familiar em meio às máfias de Nova York. Há, sim, uma historiografia desenhada em Noite sem Fim, como também há uma crônica geracional com um certo peso dramático, mas tudo isso no filme opera no auxiliar, em função do suspense e da perseguição.

No lado da historiografia, Collet-Serra faz o suficiente para que identifiquemos nesses personagens ligados à imigração irlandesa um grupo bastante particular, sempre a partir de sínteses visuais, da formação católica (a festa de Natal, o crucifixo na parede de Jimmy, a cruz também no papel do hospital) até um senso de coletividade (tudo gira em torno do pub, e na noite do título os personagens assistem a uma tradicional partida de hóquei, esporte oficial dos mafiosos irlandeses desde o clássico Os Amigos de Eddie Coyle até em filmes como Atração Perigosa).

Como um bom católico irlandês, Jimmy já vem carregado de culpa, independemente de seus atos, suas cicatrizes expostas todo o tempo na mão enfaixada (outro esforço de síntese), e nos seus momentos mais frágeis Noite sem Fim meio que trabalha a questão do remorso como um dado a priori, no piloto automático, como na cena em que Jimmy presta uma visita ao seu irmão Eddie (ser parente de protagonista em fuga é uma merda; ele vai sempre pedir seu carro emprestado, embora demonstre que pode roubar facilmente qualquer um na rua). Jimmy já vem com sua culpa pronta para ser expiada, enfim, e nesse sentido o filme não oferece muito obstáculo à redenção.

A tensão existe, sim, na ação muito bem filmada, que traça em Nova York uma arena (Collet-Serra seguindo a cartilha de Paul W.S. Anderson nos travelings aéreos feitos para nos situar de um ponto a outro dessa arena) e sabe respeitar o tempo e o espaço das perseguições. Vale reparar como os personagens falam pouco quando Jimmy parte motorizado no encalço da viatura; qualquer diálogo, afinal, seria um excesso numa cena (e num filme) que existe antes de mais nada em razão do movimento.

Noite sem Fim | Cinemas e horários

Nota do Crítico
Ótimo