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Crítica

A Mulher de Preto | Crítica

Daniel Radcliffe estrela o primeiro terror gótico da nova Hammer

23.02.2012, às 20H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 14H35

Nas histórias de terror não tem emprego pior que procurador, advogado ou escriturário. Como Jonathan Harker aprendeu em Drácula, é meio caminho para ver-se sozinho e indefeso em imóveis mal assombrados - porque mesmo os castelos da Trânsilvânia precisam estar com a papelada em dia, afinal.

a mulher de preto

a mulher de preto

Em A Mulher de Preto (The Woman in Black), Daniel Radcliffe faz o jovem advogado e pai viúvo Arthur Kipps, cujo emprego está por um fio desde que a morte de sua esposa o desestabilizou emocionalmente. Ele precisa viajar para um fim-de-mundo no interior da Inglaterra para cuidar dos papéis de um cliente recém-falecido, dono de uma mansão. A mulher de preto do título é o espírito maligno que Kipps encontra no vasto terreno, ora abandonado.

Dos longas que a Hammer Films - produtora britânica conhecida por seus terrores góticos na metade do século 20 - realizou desde que voltou sob nova direção em 2008, como Deixe-me Entrar e A Inquilina, A Mulher de Preto é o que mais se aproxima da estética e dos temas consagrados da Hammer. Talvez venha daí a impressão de que seja um filme à moda antiga, preocupado não só com a direção de arte sinistra e com sustos de vultos, mas principalmente com a atmosfera.

Há poucos lugares mais propícios a um terror gótico do que o interior e o litoral da Inglaterra. Cotterstock Hall, a casa onde o filme se passa, que fica em Oundle, Northamptonshire, foi construída em 1658 e não parece ter mudado muito ao longo desses séculos - e o mesmo vale para os arredores. A Mulher de Preto se passa na era eduardiana, nos anos 1900, mas a produção deve ter mexido pouco na paisagem para recriar esse cenário de época.

Outra constante desse tipo de filme é o choque de comportamento; o protagonista quase sempre é da cidade grande - no caso de Arthur Kipps, Londres - e, por extensão, olha com ceticismo para as crendices místicas da "gente do campo". Não é difícil antever que A Mulher de Preto seguirá o receituário clássico, com Arthur Kipps tendo a lógica como única arma contra o inexplicável.

O diretor James Watkins faz um trabalho decente ao contextualizar A Mulher de Preto dentro dessa linhagem do terror, que tem na melancolia dos personagens o seu traço mais marcante. Os terrores góticos em geral, e os da Hammer em particular, não encaram o sobrenatural com surpresa, mas com resignação - como se questionar o destino, por pior que ele seja, fosse tão absurdo quanto questionar os direitos da realeza.

No fundo, embora exista esse aparente comodismo, é o rancor contra a aristocracia que move o subgênero. Não por acaso a Hammer prosperou com o terror gótico na Inglaterra pobre do pós-guerra, e não por acaso os "heróis" do gênero são esses eficientes burocratas que questionam posse e propriedade. É como se uma maldição à altura de sua ostentação fosse o castigo merecido dos ricos.

A maior qualidade de A Mulher de Preto - um filme de direção meio frouxa, com um Daniel Radcliffe esforçado - é perceber e retransmitir essa melancolia e esse rancor que surgem com a estagnação social.

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Nota do Crítico
Bom