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Minhas Tardes com Margueritte | Crítica

Protecionismo francês se traveste de filme inofensivo para terceira idade

26.05.2011, às 19H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 14H21

A distribuidora Imovision, dona da Reserva Cultural em São Paulo, tem se especializado em um tipo muito particular de cinema europeu. Basta caminhar um domingo no cinema na Avenida Paulista para entender o apelo, junto ao público, das produções francesas para a terceira idade.

Minhas Tardes com Margueritte

Minhas Tardes com Margueritte

Minhas Tardes com Margueritte (La Tête en Friche) atende ao requisito básico: ensinar o respeito ao idoso e, por tabela, proteger uma certa tradição cultural francesa contra as diluições do século 21.

O quarentão Germain (Gérard Depardieu) é um feirante da cidade de Pons. Mora com a mãe, relaciona-se com uma mulher mais nova, motorista de ônibus, e bebe com os amigos de trabalho. Durante suas folgas, Germain se senta em uma praça para comer um sanduíche, e numa dessas conhece a nonagenária Margueritte (Gisèle Casadesus). É ela que, pela literatura de Albert Camus e Romain Gary, todas as tardes, ensina Germain a ser menos tosco.

Evidentemente, o diretor e roteirista Jean Becker tem um propósito nobre para essas aulas de literatura: ajudar o feirante a lidar com sua infância problemática, com sua mãe senil, enfim, a conhecer-se melhor. Na prática, porém, o supletivo de Margueritte afasta Germain da realidade que ele conhecia - os imigrantes que compõem a mão de obra barata da França - e ainda associa essa realidade aos problemas do mundo (o horror dos noticiários da TV na casa da mãe, por exemplo).

Becker não é o único realizador francês a atender à demanda "burguesa" dos seus compatriotas que enxergam na França miscigenada um perigo. Minhas Tardes com Margueritte funcionaria bem dentro dessa chave protecionista - Depardieu está à vontade no papel - se o arco de Germain não fosse tão raso. É um filme sem conflitos; o protagonista se dispõe a passar por uma transformação sem esboçar (ou enfrentar) qualquer obstáculo.

E aí fica perfeitamente claro que Minhas Tardes com Margueritte não é um filme que prega respeito, e sim piedade.

Ao mesmo tempo em que lança o longa de Becker, a Imovision anuncia também que comprou no Festival de Cannes neste ano 18 títulos. Entre os franco-belgas há o novo dos irmãos Dardenne, mais Robert Guediguian, Christophe Honoré, o filme francês de Aki Kaurismaki e - ainda em produção - os esperados novos trabalhos de Olivier Assayas e Phillippe Garrel. Nem tudo está perdido.

Minhas Tardes com Margueritte | Cinemas e horários

Nota do Crítico
Regular