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Crítica

Minha Vida de Abobrinha | Crítica

Animação indicada ao Oscar dilui temas duros no carinho do artesanato do stop-motion

14.02.2017, às 16H44.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H43

Indicada ao Oscar de melhor longa animado, a produção franco-suíça Minha Vida de Abobrinha (Ma Vie de Courgette, 2016) recorre às graças do stop-motion para contar uma história de abandono que, de outra forma, poderia soar dura demais para públicos infantis ao redor do mundo.

Embora traga consigo especificidades sociais da França, como o encontro de crianças imigrantes de diferentes credos e nacionalidades, o primeiro longa do diretor Claude Barras fala com audiências internacionais porque adere à estética que se popularizou nos stop-motions mais dramáticos do estúdio Laika, de A Noiva Cadáver a ParaNorman. Minha Vida de Abobrinha não é francamente funesto como esses filmes, mas a caracterização de seus personagens - do nariz vermelho aos olhos de contornos bem sombreados - traça uma familiaridade entre eles. Alguém ainda vai escrever uma tese sobre a influência de Tim Burton sobre essa obsessão por tipos visivelmente constipados.

No longa de Barras, acompanhamos um órfão de nove anos, apelidado Abobrinha, que está tentando se adaptar à vida em um orfanato no interior da França, depois que ele se envolveu no acidente que matou sua mãe. Com seus novos amigos, ele aos poucos faz do lugar seu lar. Não estamos aqui diante de uma fábula em que crianças fabricam uma fantasia para fugir da realidade (embora, a princípio, Abobrinha sonhe com super-heróis voadores); nesse sentido, Minha Vida de Abobrinha é essencialmente um longa de sensibilidade europeia, secular, em que se discute o estado das coisas com franqueza, e o escapismo não parece a Barras uma resposta adequada para o pequeno drama de Abobrinha.

Mais profundos no trabalho do diretor do que a tal sensibilidade europeia, porém, são os temas e o discurso que mais se repetem nos filmes franceses "fofos": a noção de que o interior permite uma França mais pura do que o caos da cidade grande, com seus barulhos e seus vícios. É o país do protecionismo, afinal, e essa imagem dos Alpes e da vida no isolamento do campo como um refúgio contra as violências do mundo, que acabam dominando Minha Vida de Abobrinha por completo, não são uma invenção de Barras.

O que o diretor realiza com Minha Vida de Abobrinha é, no fim, uma versão bem contemporizadora de conflitos que, apesar de estarem enunciados no filme (sobre a orfandade, o isolamento, o estrangeiro), se diluem num mar de boas intenções e no evidente carinho paterno com que se faz o artesanato do stop-motion.

Nota do Crítico
Bom