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Crítica

Meu Namorado Fake faz uma teia de mentiras parecer divertida

Em meio a comédia, ainda é possível notar o impacto das redes sociais e como ela pode determinar como nos relacionamos romanticamente

13.06.2022, às 10H56.
Atualizada em 28.02.2024, ÀS 00H46

Como tudo que acontece só existe se for postado, a internet nos dá poder para criar nossas próprias linhas narrativas, e assim, lidar com as consequências. A nova comédia romântica com temática LGBTQIA+, Meu Namorado Fake, chega ao Prime Video para ampliar o catálogo de projetos deste gênero com uma história divertida, leve, e com a missão de demonstrar que muito do que se vive na realidade é pautado pelas redes sociais. Produzida pela Lionsgate em parceria com o BuzzFeed Studio, o longa não se faz sério ou se aprofunda em questões emocionais, mas enobrece a ideia de que ao enfrentar um problema, o melhor caminho é ser quem realmente você é.

A trama acompanha as decepções e confusões amorosas de Andrew (Keiynan Lonsdale, The Flash), um aspirante a dublê de cenas de ação, romântico e sonhador, que está tentando sair de um relacionamento tóxico com seu ex-namorado, Nico (Marcus Rosner), um ator em ascensão e mega egocêntrico. Para ajudar a dar um basta nessa situação, o protagonista conta com a ajuda do seu melhor amigo, Jake (Dylan Sprouse, O Show do Sábado) e de sua namorada Kelly (Sarah Hyland, Modern Family), que juntos bolam alguns planos para que Andrew não tenha recaídas e volte a sofrer. Essas tentativas não funcionam muito bem, e a solução final é criar um namorado falso nas redes sociais; um homem perfeito, para que toda a sociedade veja como Andrew superou seu ex e está cada vez mais feliz e seguindo em frente, através de fotos e vídeos totalmente editados.

O que já não parecia ser a melhor das ideias, acaba piorando. O fake, Cristiano, começa a receber muita atenção nas redes sociais pelo seu estilo de vida e logo se torna um viral – mais do que isso, ele é transformado em um influenciador com milhares de seguidores (administrado por Jake), e isso passa a ser um grande problema para o grupo de amigos e para todos ao seu redor. Especialmente para Andrew, que no meio dessa farsa, se apaixona verdadeiramente por um cozinheiro, o charmoso Rafi (Samer Salem), e se vê encurralado quando o trio perde o controle das mentiras.

O conceito é interessante. Existe uma ligação entre namoros e redes sociais que traz proximidade com os relacionamentos atuais, e o filme desperta debates de como projetar uma imagem virtualmente pode melhorar de fato a “vida offline” de alguém; ele também acaba demonstrando o poder da internet de tornar uma pessoa famosa em instantes, o que aprofunda a temática da história. Entretanto, os acontecimentos e as tomadas de decisões dos personagens que o roteiro de Luke Albright, Joe Wanjai Ross e Greg Boaldin propõe ao decorrer do filme não se encaixam muito bem com a realidade; eles são pouco críveis, provavelmente de forma proposital, para que a trama preencha os espaços de comédia e absurdo. Mas, considerando Meu Namorado Fake como um filme leve, para passar o tempo e se divertir, em certo modo, ele consegue atingir esse objetivo.

Rose Troche (The L Word) é uma diretora com um olhar voltado para TV, o que é perceptível na rápida fluidez dos acontecimentos.Porém, há muitos momentos do filme que não são exatamente demonstrados em cena, ou simplesmente acontecem rápido demais para o espectador se importar, quando, na verdade, o tempo aqui é necessário para digerir e localizar os personagens para saber para onde estão caminhando. O fake se torna uma personalidade da mídia: mas como? Por quê? É complicado acompanhar a evolução da história em alguns pontos. O mesmo acontece com o repentino interesse de Andrew pelo cozinheiro – não fica determinado quando esse novo amor floresce (pelo menos não nessa velocidade).

Chamarizes do longa, Dylan e Sarah atuam bem, conseguem se misturar a trama, trazem uma química divertida e dão conta de adicionar pitadas de humor em meio à loucura que estão vivendo. O protagonista Keiynan tem um desempenho razoável, e opta por uma atuação mais contida, mas que faz jus ao personagem e não atrapalha o desenrolar do longa, mesmo precisando afastar um ex, sustentar uma mentira e conquistar um novo namorado ao mesmo tempo.

A trama é cheia de clichês LGBTQIA+, mais especificamente da comunidade gay, desde estereótipos na balada até discussões sobre nudes e aplicativos de relacionamento gays. Não que estes clichês sejam desrespeitosos ou coisa do tipo, mas eles são um pouco datados e previsíveis tratando-se de uma comédia romântica queer. Ao fim, Meu Namorado Fake poderia caminhar por questões mais sombrias, mas leva tudo com bom humor e alto astral. Mesmo o roteiro não sendo o ponto forte, é possível dar boas risadas e ainda apreciar os momentos fofos com o romance em tela.

Nota do Crítico
Bom