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O Mestre | Crítica

Paul Thomas Anderson investiga as origens dos cultos em seu sexto filme

08.09.2012, às 15H10.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H42

Paul Thomas Anderson nos deixou cinco anos esperando pelo seu próximo filme, mas O Mestre (The Master) compensa cada minuto da angustiante expectativa.

The Master

The Master

The Master

Seu sexto longa-metragem se inspira nas origens da Cientologia - o famoso culto que encontrou em Hollywood o local ideal para seu enraizamento (e em Tom Cruise seu maior porta-voz). Diferente do filme-denúncia que muitos esperavam, porém, o drama é mais uma exploração das origens dos cultos e busca em L. Ron Hubbard, criador dessa igreja, apenas um ponto de partida.

Muito mais do que isso, O Mestre é um drama sobre a vida à margem da sociedade em dois níveis. Nos EUA pós-Segunda Guerra Mundial, em que soldados retornam para casa sem perspectiva e com anos de seu crescimento roubados pelo conflito, encontramos Freddie Quell (Joaquin Phoenix), sujeito que vai de emprego em emprego, abraçando a garrafa e criando problemas.

Com uma interpretação assombrosa, daquelas que definem carreiras (como se Phoenix precisasse de mais uma, mas aqui a tem), o ator se retorce dentro do corpo de Freddie, um homem cuja alquebrada forma exterior (totalmente criada a partir de atuação) reflete o que ele tem dentro de si: agonia e miséria. É um prazer assistir a ele no papel.

Durante uma fuga causada em função de uma bebedeira, Freddie acaba invadindo um barco de luxo prestes a zarpar. Algum tempo depois é encontrado pelos seu "anfitrião", Lancaster Dodd, o "Mestre" do título, vivido por Philip Seymor Hoffman. Fascinado pela simplicidade carismática de Freddie e vendo nele uma espécie de cobaia, o hipnótico líder do culto o inicia nos mistérios de sua teoria sobre seres interplanetários de milhões de anos, viagens da consciência através do tempo e outras ideias retiradas da ficção científica e colocadas em um contexto de auto-ajuda.

As sequências em que o Mestre submete Freddie aos primeiros passos do culto são poderosíssimas e aflitivas. Hoffman, com a competência que já demonstrou inúmeras vezes, repete aqui o tipo loquaz manipulador, de temperamento explosivo sob uma superfície calma, que sempre faz tão bem, com veias explodindo e rosto inchando de sangue. Com Phoenix inspiradíssimo do outro lado da mesa, os embates fluem durante longos minutos, quase em tempo real, fazendo o espectador (literalmente) não piscar.

Rodado em belíssimos 70mm, o filme está encontrando dificuldade de exibição no seu formato original, mas se você tiver a oportunidade, não deixe de assisti-lo assim. A qualidade da mídia, que evidencia a cinematografia de Mihai Malaimareh Jr. (que trabalhou nos últimos filmes de Coppola), nessas condições ideais, é a melhor que já tive o prazer de ver no cinema. O trabalho de foco, de estreitíssima profundidade de campo, faz saltar poros e texturas, dando uma proximidade quase incômoda aos retratados. Nos cenários, funciona como hiperrealismo, fazendo com que as locações e pessoas pareçam tão alienígenas e reais, quanto o Mestre insiste que são.

Há ainda a mágica trilha sonora de Jonny Greenwood (que já trabalhou com Anderson em Sangue Negro), que acompanha a ação dando mais uma camada de estranheza ao filme. A música tem um tempo particular, uma utilização nada convencional, ora dando suporte à ação, ora tirando sua legitimidade.

Etéreo em momentos, mas claro e fácil de seguir quando a trama avança, O Mestre é sofisticado em sua execução e maduro em suas intenções. Uma obra que desde já encontra seu espaço entre os grandes filmes contemporâneos, talvez da história da arte.

O Mestre | Cinemas e horários

Nota do Crítico
Excelente!