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Mama | Crítica

Terror produzido por Guillermo Del Toro cria interessante universo gótico mas se prende demais a convenções

04.04.2013, às 17H21.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H42

Como numa boa fábula, Mama carrega consigo uma dádiva e uma maldição. A dádiva é a exposição garantida pelo curta-metragem Mama, de 2008, que fez sucesso em festivais e na web e gerou interesse pelo trabalho do diretor argentino Andrés Muschietti. A maldição é o efeito colateral: Muschietti, estreante em longas, chega a Hollywood preso ao universo que criou.

mama

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Procurado por Guillermo Del Toro - que usa sua influência para bancar, como produtor, novos talentos latinos na indústria de cinema dos EUA - para fazer um longa, Muschietti ofereceu um roteiro original que não tinha nada a ver com Mama. Ouviu uma negativa de Del Toro: o único longa possível, o que todos esperam, é a versão completa da história de Mama. Afinal, o que acontece com aquelas crianças do curta? Essa é a pergunta que, de repente, Muschietti se viu obrigado a responder.

O resultado, como se pode temer, comporta-se um pouco como um curta estendido, que não desenvolve personagens a contento. Logo no começo do filme descobrimos por que as irmãs estão sob os cuidados da assombrada "mama": são duas crianças órfãs que vivem anos numa cabana isolada depois da morte de seus pais. Elas são descobertas então por seu tio, Lucas (Nikolaj Coster-Waldau), e retornam para a civilização - mas carregam "mama" consigo. Quem mais sofre é a protagonista, Annabel (Jessica Chastain), namorada de Lucas, que se vê numa competição macabra com "mama" pela guarda da meninas.

Das fábulas, Mama tira seu imaginário gótico. A neve, a floresta, os símbolos de contos de fada - como as cerejas que as crianças comem ou o lobo de pedra no jardim - dão o clima de história dos irmãos Grimm, com direito a um "Era uma vez..." no início do filme. Seria fácil fazer uma relação entre esse primeiro filme de Muschietti e o universo fabular dos terrores de Del Toro, como O Labirinto do Fauno, se as escolhas cromáticas do argentino - filtros que tiram a cor do ambiente e ressaltam os verdes e os vermelhos - não transitassem tão obviamente por outro terreno visual, o de Alfonso Cuarón.

Os mexicanos Cuarón e Del Toro, afinal, hoje são os modelos de cineastas latinos em Hollywood que uma geração aprendeu a seguir. Em Mama, Andrés Muschietti pega um pouco de cada um deles (e dos cabeludos fantasmas japoneses) e dá ao filme uma unidade visual e temática. É interessante como se faz, por exemplo, entre Annabel e "mama", um duelo de estéticas góticas: a roqueira de cabelo preto e olho pintado, herdeira do punk e dos New Romantics, versus o espectro deformado de uma mulher que parece saída, com seu rosto estreito e alongado, da tela modernista "American Gothic" de Grant Wood.

É uma pena, no fim, que Muschietti não consiga dar a esses personagens esteticamente bem definidos uma trama que seja satisfatória. Mama rapidamente se prende a convenções do gênero (nos terrores todo mundo é detetive) e clichês de sustos ("mama" viveu em tempos remotos mas sabe escrever seu nome na tela do computador), e a investigação que vai explicar todos os detalhes do passado do fantasma tira o espaço que Annabel teria com as crianças.

Esse espaço era fundamental; Annabel só poderia competir com "mama" a partir do momento em que ganhasse a confiança das duas órfãs. O que vemos no filme, na verdade, é uma relação que nunca deixa de ser disfuncional: Annabel desconcertada com o problema que caiu no seu colo, enquanto as meninas seguem isoladas. Nem com o buraco preto de mofo que surge na parede da casa Annabel se incomoda muito. É como se a personagem estivesse só esperando o confronto final com o fantasma, ciente do que o roteiro lhe reserva.

Como exercício de estilo e criação de um universo, Mama se destaca no meio da safra atual de terrores "não-documentais" (e por isso a cotação arredondada pra cima de um filme que seria só regular), mas Andrés Muschietti ainda precisa se provar, se quiser ser visto não como um esteticista mas como um contador de histórias.

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Nota do Crítico
Bom