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Magic Mike | Crítica

Steven Soderbergh confunde moral e moralismo em filme sobre a crise financeira enquanto emasculação

02.10.2012, às 01H55.
Atualizada em 29.06.2018, ÀS 02H37

Magic Mike começa com o tal Mike (Channing Tatum) levantando pelado da cama, pela manhã. Ele está acompanhado de Olivia Munn, também nua, e de uma segunda garota, não identificada. Percebe-se que a noite foi boa e a personagem de Olivia depois diz que aprecia sair com Mike porque a presença dele facilita que ela pegue outras mulheres na balada.

magic mike

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Os tempos nos EUA são de recessão, afinal, e não se deve condenar os meios que as pessoas encontram para encher sua cama dia após dia, mesmo gente linda como Olivia Munn, que não precisaria desse tipo de subterfúgio. O ponto é que o diretor Steven Soderbergh e o roteirista Reid Carolin (que faz uma ponta como um coxinha de finanças) estão interessados em tratar da recessão - e dos meios de sobreviver a ela.

Mais ou menos como Ou Tudo Ou Nada, a comédia britânica de 1997 sobre tiozões recém-desempregados que viram strippers, Magic Mike usa o universo dos "Clubes de Mulheres" para falar de crise financeira enquanto emasculação. Em Tampa, na Flórida, os bofes depilados que formam o escrete da casa de shows de Dallas (Matthew McConaughey numa versão de verão do Tom Cruise de Magnólia) só podem contar com suas bombas penianas e suas substâncias controladas para se impor novamente onde falhou o capitalismo dos machos alpha. E Mike Mágico, o principal stripper da casa, certamente se impõe.

O problema é que, enquanto faz uma defesa meio cínica, meio sentida, do Sonho Americano (cínica nos números musicais, como o do Tio Sam bombado, sentida nas várias tomadas de sol e contraluz na praia, numa vibe bem "Americana"), o filme vai aos poucos deixando seu discurso sobre a recessão mais óbvio e mais moralista. Mike se revela um aspirante a marceneiro - que quer construir móveis sólidos e não "essas mobílias descartáveis" que as pessoas compram - e tem crédito negado no banco. Ele diz à gerente que "lê os jornais" e sabe que, na verdade, quem está na pior são os bancos. Todos sabemos, afinal, mas o filme faz questão de transformar em manifesto essa questão que até então estava subentendida.

Soderbergh parece não entender a diferença entre um conto moral e um conto moralista. Contos morais são uma espécie de tradição hollywoodiana em tempos de crise, desde os filmes de Frank Capra pós-Quebra da Bolsa até o Wall Street de Oliver Stone. Já contos moralistas jogam nas costas de personagens o peso de culpas, suas e outras, que eles não conseguem e não deveriam suportar. O excesso de close-ups nos jovens atores e atrizes de Magic Mike é o principal sintoma dessa carga desproporcional.

É no close-up, de qualquer forma, que se percebe o ator diferenciado, e digamos que Channing Tatum - cujas experiências reais serviram de base para o roteiro - revela-se melhor stripper do que ator.

Nota do Crítico
Regular