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Crítica

Ma

Justificando a todo momento as atitudes da personagem-título, filme decepciona ao não criar tensão, nem ser bizarro o suficiente

02.06.2019, às 12H19.
Atualizada em 02.06.2019, ÀS 12H31

“Não fale com estranhos” pode parecer um conselho bem óbvio, mas para os adolescentes de Ma a compreensão desta frase vem acompanhada de situações, no mínimo, brutais. Procurando um adulto para comprar um estoque considerável de bebidas alcóolicas, Maggie (Diana Silvers) e companhia se deparam com a aparentemente inofensiva Sue Ann (Octavia Spencer) que, não apenas se prontifica a ajudá-los, como oferece um lugar para festas livre do acompanhamento parental. Mas o que parecia um bom negócio se prova perigoso quando a quarentona começa a dar indícios da sua fixação com o grupo de jovens. O anseio para fazer parte da turma popular, enraizado em um trauma da sua própria experiência escolar, leva a mulher a perseguir, torturar e até matar pessoas que ficarem no seu caminho.

Embora tenha uma premissa forte, Ma funciona mais como um drama teen do que de fato como um suspense ou um terror. Na tentativa de criar uma personagem tridimensional, com a qual o público poderia sentir empatia apesar da sua obsessão e dos seus atos de violência, o novo filme de Tate Taylor abdica de criar tensão e de explorar os impulsos bizarros da sua protagonista para justificar cada um de seus passos com a já saturada cartada do bullying. Esta opção, além de esvaziar uma discussão relevante, deixa o filme em um meio-termo confuso, que não entrega nem uma experiência aflitiva, nem envolvente. Na realidade, imprime um ritmo lento e truncado à história e, em última instância, mina as possibilidades do público de se importar com ela.

A própria ideia de quem é a personagem-título não é bem concebida. Fora a inocência durante sua adolescência - frisada até demais pelos flashbacks -, o verdadeiro sadismo da personagem, o elemento mais interessante dessa trama, surge de forma tão abrupta como a ligação dela com uma das jovens. Pouco explorados, ambos acabam se tornando meros recursos para levar o longa ao clímax e, enfim, resolvê-lo. Nada mais.

Nesta indecisão de que caminho seguir, a trama só tem êxito mesmo sob a perspectiva dos adolescentes. Diana Silvers encarna perfeitamente o que se espera de uma mocinha e a dinâmica do grupo, de um modo geral, é divertida. Porém, este núcleo não traz nada de muito novo ao espectador. Em outras palavras, não oferece substância o suficiente para recuperar o filme dos seus eventuais melodramas.

Com uma premissa tão inusitada, o longa tinha condições de criar uma narrativa angustiante e, honestamente, bem mais memorável. Mas, tímido demais para abraçar o terror e sem objetivo claro do que pretendia dizer, Ma é apenas decepcionante.

Nota do Crítico
Regular