Aproveite as ofertas da Chippu Black!

Veja as ofertas
Termos e Condições Política de Privacidade
Filmes
Crítica

Ladrões traz um Darren Aronofsky diferente, mas ainda tentando se entender

Diretor se afasta de filmes anteriores e mistura ação e comédia com um Austin Butler quase perfeito - e sem culpa por isso

5 min de leitura
28.08.2025, às 08H00.

Goste ou não de Darren Aronofsky, é impossível negar sua marca em estilo narrativo. Após surgir para o mundo com o ultra-contrastado e conceitual Pi, o diretor forçou as barreiras do choque com Réquiem para um Sonho. O drama aterrorizante fincou o nome do diretor como um dos mais proeminentes do novo milênio. Após o fracasso comercial de Fonte da Vida, com a estrela daquele momento, Hugh Jackman, Aronofsky virou um nome de prêmios ao colocar Mickey Rourke de volta nos holofotes com O Lutador, e alcançar a glória com, aquele que é considerado por muitos sua obra máxima: Cisne Negro. A partir daí, enfileirou Noé, Mãe! e A Baleia - que rendeu um Oscar para Brendan Fraser - e os cacoetes do diretor já não encantavam tanto, seu estilo e escolhas passaram a ser questionados e, claro, na onda das redes sociais, acabou virando um queridinho de reclamações da cinefilia.

Ladrões parece uma resposta do próprio Aronofsky ao seu cinema. Um afastamento proposital de tramas psicológicas, devaneios visuais e conceitos que parecem mais complexos do que realmente são. É um suspense, que se mistura com comédia de erros e pincela momentos de ação aqui e ali. Mesmo com toda a violência envolvida na história e umas escatologias gratuitas, é o filme mais leve do diretor, o que ajuda na fluidez da trama e na simplicidade bem-vinda de alguns de seus personagens.

O filme conta a história de Hank (Austin Butler), um bartender viciado em beisebol (e em álcool), que já foi um nome com possibilidade de futuro no esporte, mas que acabou longe do “diamante” - ou ball field como o campo é chamado - após um acidente. Hank leva uma vida simples e com uma paixão tórrida por Yvonne (Zoë Kravitz) até que seu vizinho, Russ (Matt Smith), pede que ele cuide de seu gato enquanto precisa viajar. Mafiosos batem na porta de Russ e acabam colocando Hank no meio de um esquema perigosíssimo, que ele tentará a todo custo escapar. Não há tempo para elaborações profundas sobre o psicológico e a influência dele nas atitudes de Hank, coisa que o Darren Aronofsky do passado faria. 

Os trailer de Ladrões venderam que o filme bebia da fonte de Guy Ritchie, mas a grande referência são as histórias de Shane Black, como Beijos e Tiros, Dois Caras Legais e O Último Boy Scout. Aronofsky troca a ensolarada Califórnia de Black por uma Nova Iorque de 1998 - ano de lançamento de seu primeiro longa -, momento em que a cidade vivia uma onda de revitalização e transformação nas mãos do prefeito Rudolph Giuliani, às custas de gentrificação, especulação imobiliária, tensões raciais e uso de força policial abusiva. Era um período pré-11 de setembro e as torres do World Trade Center no horizonte e um momento específico do final da história não nos deixam esquecer. A escolha pelo período, entretanto, nunca parece se justificar realmente e vira mais um artifício de roteiro para dificultar a vida de Hank. Baseado no livro de Charles Hutton, que assina o roteiro, as ideias sociais por trás do fim dos anos 1990 ficam apenas no discurso de personagens como a policial vivida por Regina King ou em uma sujeira ou outra na rua.

Acostumado aos bons protagonistas, Darren Aronofsky encontra em Austin Butler mais um acerto. Depois de viver o Rei do Rock, em Elvis, o psícótico Feyd-Rautha, em Duna: Parte 2, papéis que exigiam muito de sua fisicalidade na atuação, aqui Butler começa como um grande bibelô nas mãos do diretor, para então se mostrar apenas um homem comum, frágil em meio à violência em que é jogado e que se atrapalha nas próprias escolhas. Quando foca nesse lado atrapalhado, mas aguerrido, de Hank, Ladrões funciona perfeitamente. O problema é que o filme força um grande drama no passado do personagem, que serviria para acumular com outros ao longo da história, mas que nunca tem o peso devido. É um drama raso, como em filme de esporte bem clichê, que destoa, inclusive, da ação enérgica e o suspense espertinho que o diretor vai construindo com os vários gângsteres que entram e saem da trama. 

Aliás, esses são personagens que também ficam fora de tom. Enquanto Colorado, interpretado por Bad Bunny - creditado como Benitez Martínez Ocasio, seu nome verdadeiro - parece saído diretamente de uma comédia de Adam Sandler, os “hebreus” de Liev Schreiber e Vincent D’Onofrio são uma ótima adição para o momento em que o filme parece não ter mais para onde ir.

Ladrões gera um sentimento dúbio em relação ao seu realizador. Enquanto parece que Aronofsky olha para Hank como ele próprio, correndo da atenção de todos que querem lhe dar uma surra, o diretor também traz um frescor para sua obra e um sorriso de canto de rosto, como o ronronar de Bud, o gato que o protagonista precisa cuidar. Talvez o diretor ainda precise se acostumar com esse novo Aronofsky que faz gracinha nos créditos finais e, na mesma produção, cria um belíssimo plano de ação com drone, que remete claramente aos prédios de tijolos e as escadas de Amor, Sublime Amor, filme que discute questões sociais que ele próprio não consegue. É um caminho interessante, Aronofsky consegue encher as bases, mas ainda precisa aperfeiçoar o “swing” para uma rebatida perfeita, como a que Hank tanto espera de seu time de beisebol ao longo da trama.

Webstories

Nota do Crítico

Ladrões

Caught Stealing

2025
107 min
País: EUA
Direção: Darren Aronofsky
Elenco: Liev Schreiber, Zoë Kravitz, Matt Smith, Vincent D'Onofrio, Austin Butler