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Crítica

Jolt: Fúria Fatal remete à história de herói com graça e originalidade

Ação com Kate Beckinsale flutua bem entre a comédia romântica e a violência

22.07.2021, às 11H44.
Atualizada em 28.02.2024, ÀS 00H47

Os primeiros minutos de Jolt: Fúria Fatal poderiam ter saído de um filme de quadrinhos. A introdução de Lindy, nossa protagonista que nasceu com ímpetos homicidas incontroláveis e por isso passou a infância em terapias e laboratórios, rapidamente se encaixa na tendência que domina Hollywood, e por isso parece uma história de origem de super-herói. Felizmente, ela não é. Com o frescor de um roteiro original, Jolt é uma comédia de ação que ganha exatamente por sua liberdade das amarras a um gênero só. 

Vivendo uma vida complicada - sempre ligada a eletrodos e com um botão que lhe dá um choque toda vez que os ímpetos dão seus sinais -, Lindy (Kate Beckinsale) se consulta regularmente com um psiquiatra (Stanley Tucci) que defende o antídoto do amor. Nada poderia salvar a protagonista a não ser o afeto, sentimento que lhe aumentaria a tolerância em relação aos outros humanos. Por isso, ela dá uma chance a Justin (Jai Courtney), um sujeito com quem passa algumas noites e lhe dá abertura para mostrar seu lado sensível. Tudo caminha bem até que o rapaz é assassinado e Lindy parte em uma jornada de vingança e investigação. 

No caminho, ela é perseguida pela dupla de detetives Vicars e Nevin - Bobby Cannavale e Laverne Cox em uma ótima química de good cop/bad cop - e vai desvendando os outros lados de Justin, que não parece ser um simples contador. Tudo isso é temperado com rápidas cenas de ação - especialmente boas quando a protagonista segura seus impulsos, torturando pessoas irritantes apenas em sua mente - e bons personagens coadjuvantes que cruzam nosso caminho (com destaque para a pequena Sophie Sanderson, no curto papel uma hacker mirim). 

Talvez pelas semelhanças da personagem com a Atômica de Charlize Theron ou pelo clima de Novos Mutantes da introdução de Jolt, o longa é assombrado pela comparação com adaptações como estas. Os seus tropeços também são os mesmos deste gênero,  desde o vilão mal-construído às resoluções frágeis e expectativas de sequência. Mas o que inclina Jolt para um caminho mais inovador é sua leveza, e uma precisa habilidade da diretora Tanya Wexler de misturar ação com comédia e romance. 

Distante de explorar as complicações reais do problema de Lindy - muito porque o filme confia bastante no humor para carregar a história -, Jolt inicia no drama, quando foca na infância da protagonista, torna-se rapidamente uma comédia romântica e depois se aprofunda completamente na ação. Seu humor, consistente durante todo o filme, é o que segura a narrativa de colapsar em suas flutuações. E apesar da atuação vacilante de Beckinsale - que vence mais pelo carisma do que poderes de interpretação -, a atriz sabe como fazer funcionar momentos hilários, como uma ótima cena na ala da maternidade de um hospital. 

Nada disso se sustentaria se Jolt: Fúria Fatal pesasse a mão na pretensão, mas a leveza do elenco carrega o questionável roteiro de Scott Wascha para o lado do entretenimento descompromissado. Claro que o terceiro ato inclui explicações tão previsíveis quanto ininteligíveis (sim, essa combinação é possível), mas existe carisma o suficiente para te levar até ali, e quem sabe até mais além se o Prime Video cumprir a expectativa de ganchos abertos.  

Nota do Crítico
Bom