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Jogos Mortais 3 | Crítica

Jogos mortais 3

01.11.2006, às 00H00.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 13H21

Jogos mortais 3
Saw III
EUA, 2006
Terror - 135 min

Direção: Darren Lynn Bousman
Roteiro: Leigh Whannell

Elenco: Tobin Bell, Angus Macfadyen, Dina Meyer, Kim Roberts, Shawnee Smith, Bahar Soomekh, J. LaRose, Debra McCabe, Dylan Trowbridge, Alan Van Sprang

Jogos Mortais III (Saw III) custou por volta de 10 milhões de dólares para ser feito, ninharia para os padrões de Hollywood. Na tela, percebe-se.

Em 107 minutos de filme há uma única externa. Tomadas de interiores exigem recursos mínimos, e talvez não haja na produção um único set com mais de 100 metros quadrados. São, essencialmente, dois espaços: o QG do maníaco Jigsaw (Tobin Bell) e o complexo em que é mantido Jeff (Angus Macfayden).

Na trama, o sádico torturador desapareceu. Descobrimos que ele está em estado terminal quando, certa noite, após terminar seu turno no hospital, a doutora Lynn Denlon (Bahar Soomekh) é sequestrada e levada ao galpão abandonado onde Jigsaw está à beira da morte. A ela é ordenado que mantenha-o vivo tempo suficiente, até que Jeff, a vítima citada acima, complete o jogo em que está enclausurado. Se Jigsaw morrer antes do tempo, Lynn também morre.

Era muito comum, nos filmes B dos anos 40, assistir a cenas fechadas em pequenos set sem que nos fosse dado conhecer o espaço todo. Em outras palavras: produção barata não se dá ao luxo de construir uma casa inteira, apenas a sala-de-estar onde transcorre a ação. O problema de Jogos Mortais III começa aí. Dominar a encenação em um espaço mínimo exige talento. E o diretor Darren Lynn Bousman (Jogos mortais II), educado na era do videoclipe, com sua câmera-na-mão tremida, cortes rápidos com flashes e enxertos nervosos, se enche de artificialismos para dinamizar o espaço, por medo de não dominá-lo.

É um desperdício - boa parte dos 10 milhões são empenhados na construção das armadilhas de Jigsaw (o crucifixo levou três semanas para ser feito) e Bousman não tem a coragem de manter um plano fixo no equipamento, na tortura, por mais do que cinco segundos. Imagens têm um tempo mínimo para serem registradas pelo cérebro do espectador. E com a edição vertiginosa que impõe a Jogos Mortais III, o diretor anula o potencial das cenas. A seqüência das correntes seria muito mais eficiente - plástica e psicologicamente falando - se o diretor elegesse uma perspectiva frontal e se afiançasse nela por, digamos, mais uns dez segundos.

Parece muito difícil para a geração MTV entender: manter a câmera estática num ponto por algum tempo não é sinônimo de aborrecimento. Pelo contrário, se a intenção é despertar o horror no público, nada melhor do que impor a visão incontornável de um objeto medonho por um tempo maior. Imagine se a operação com a furadeira fosse filmada em um único take, o close do crânio... Isso sim é tortura cinematográfica.

Para fazer justiça, os malabarismos de Bousman dão bom resultado quando é preciso fazer a transição de uma cena a outra. Há uma variedade de pulos temporais no filme, indo e voltando na linha cronológica até antes mesmo da trama do primeiro Saw, e a maneira como o diretor mistura elementos não-lineares em um mesmo plano - Amanda (Shawnee Smith) atravessando um corredor e saindo num acontecimento de meses antes, por exemplo - são um maneirismo que funciona, especialmente para mascarar as limitações de espaço.

As referências aos filmes anteriores, aliás, são frequentes e é indispensável saber o que veio antes para compreender globalmente a história dos personagens. Falou-se aqui de muita técnica, das escolhas do diretor, mas o fato é que Jogos Mortais III está cheio de guloseimas para os fãs, como a reconstituição do banheiro do primeiro filme. Se o que você procura são esses paliativos, esbalde-se. Mas se você espera um pouco além do que a clicheria e a covardia visual de sempre, então vai ter que esperar mais.

Nota do Crítico
Regular