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Jogo de Poder | Crítica

A verdade sobre as armas de destruição em massa no Iraque

17.03.2011, às 18H09.
Atualizada em 21.09.2014, ÀS 14H17

Doug Liman, conhecido por filmes de apelo arrasa-quarteirão como A Identidade Bourne, Jumper e Sr. e Sra. Smith, colocou a ação na prateleira temporariamente para realizar o filme mais sério de sua carreira: Jogo de Poder (Fair Game, 2011), thriller político na tradição de Todos os Homens do Presidente (All the President's Men, 1976), é baseado em fatos ocorridos durante a recente administração George W. Bush (2001-2009) dos EUA.

A trama narra um dos episódios mais conhecidos, vergonhosos e importantes da história recente daquele país, um que levou à segunda Guerra do Iraque - que durou sete anos e deixou centenas de milhares de mortos. Nela, como responsável pela divisão de contra proliferação de armas de destruição em massa da CIA, Valerie Plame (Naomi Watts) comanda uma investigação sobre a existência de armamentos nucleares no Iraque. Seu marido, o diplomata Joseph Wilson (Sean Penn), é incluído na investigação por sua experiência com a política no Níger, onde supostamente ocorreu uma venda do composto Yellowcake (uma mistura de urânio livre de impurezas para fins nucleares) ao Iraque. Em pouco tempo, tanto Valerie e sua equipe como Joe chegam a conclusões semelhantes: não existem armas de destruição em massa no Iraque.

No entanto, o poder público, ignorando as descobertas da CIA, afirma que tais armas existem e usa tal desculpa para iniciar a guerra. Furioso, Wilson escreve um editorial ao New York Times com sua versão dos fatos, o que inicia uma controversa disputa de poder que culmina com uma retaliação covarde: a revelação do cargo secreto de Valerie ao público.

O filme adapta dois livros: o da ex-agente (Jogo de Poder) e o do ex-diplomata (A Política da Verdade), que viram suas carreiras e famílias desmoronarem quando o governo e a mídia de extrema-direita manipularam fatos e dados para desacreditar violentamente suas descobertas, mantendo as razões para a Guerra do Iraque.

jogo de poder

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Com os dois lados bem cobertos, Jogo de Poder equilibra a tensão dentro e fora do campo político - ainda que Liman pareça mais à vontade com as sequências dentro dos escritórios ou durante as investigações, quando sua câmera inquieta busca personagens com velocidade digna de Jason Bourne. O que não significa que as cenas domésticas, devastadas pelos acontecimentos lá fora, sejam menos impactantes. Essas são energizadas pela qualidade dos atores, Watts e Penn, dois dos melhores em atividade por lá.

Graças a esse elenco e à qualidade do texto conciso de Jez Butterworth e John-Henry Butterworth, Liman conseguiu levar à tela esse tema difícil sem parecer muito ativista (há alguns discursos, mas não chegam a incomodar). Afinal, em diversos momentos entende-se até o outro lado - existem antagonistas, mas ninguém é demonizado (não estão todos interessados na segurança?) e mesmo o Wilson de Penn beira a arrogância em suas opiniões. O cineasta não parece preocupado em encontrar culpados (Scooter Libby parece um bode expiatório), apenas registrar a verdade de forma a que ela possa ser mais facilmente consumida (e lembrada) pelo público.

O problema é que Liman cria um registro que dificilmente atingirá a massa que deveria conhecer ou ao menos preocupar-se com tal caso, não alcançando ninguém que já não conhecesse de antemão - ao menos nos EUA - cada um dos detalhes citados. É um filme sob medida para engajados, que, por sua vez, estranharão a simplificação de outra das maiores discussões éticas dessa polêmica: a responsabilidade da mídia sobre o que houve. Já que não converterá ninguém, ao menos o registro poderia ser ainda mais abrangente.

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Nota do Crítico
Ótimo